quarta-feira, 29 de julho de 2009

O primeiro Fausto - trechos

Como da circunferência para o centro
(Não .........................................
é o mesmo. - Do centro p'ra o espaço
Real ou suposto, nessa circunferência
(...) em outros sóis e outros sistemas.
No centro de sóis mais interiores
( O centro de cuja circunferência
Eu via em infinito para dentro
Não para fora como infinito nesse)
E o nosso mundo com seu Deus nele
Eraum mero satélite
De um sol de (superiores) sistemas
Infinito interior no interior!
Pavorosa Agonia do Profundo !
Vacuidade e realidade negra
De Tudo!

a máquina de escrever


O primeiro Fausto - trechos

Não descreio de Deus, passei p'ra além.
Um dia meditando


Uma idéia (espontânea) e horrorosa
Como um vulto supremo em ter vulto
Surgiu no fundo do meu pensamento...
C0m a vista confrangida, e o medo
Vestindo-a, e
Apareceu-me Deus em esqueleto...
Tendo (desaparecido) seu corpo ideal
Não de (...) só, (de) inatingível,
Mas (nesse) de mais do que inatingível,

Até ao fundo do seu ser abstrato
O meu ser despi, e eu vi o / /
Esqueeleto / / do Mistério...
O Inferno tomou forma dentro de mim...
Ah, inda hoje, se relembro, sinto
Como (um nada) no lugar, um pavor negro
Não em mim, mas em todo o Universo,
Um arrepio pelas estrelas fora,
E um (...) horror arreapnahndo os céus
Como a uma pele que tem medo...
.............. F. Pessoa
(Trechos entre parênteses ou entre colchetes se devem ao trabalho de decifração dos textos pessoanos, pois, dada a rapidez da escrita, muitos termos ficaram ilegíveis.)

O primeiro Fausto - trechos

Como, banido, ó arqueiro Philoctetes,
Sou só na alma porque vi o abismo.

Excluso eterno
A vida pávida que cismo.

Sou morto, porque sei que o infinito
É limitado, e assim Deus morre em mim.

Deus sabe que é uno, um e infinito,
Mas eu sei que Deus, sendo-o, não é.
Mais longe que Deus vai meu ser proscrito.
................................ F. Pessoa

Pessoa e Khayyam


Ontem comprei um livro, na verdade, trata-se de um trabalho acadêmico publicado e que versa sobre as influências do poeta astrônomo Omar Khayyam na obra de F. Pessoa. A autora, Márcia Manir Miguel Feitosa, mostra como o leitor de Pessoa pode flagrar, em diferentes pontos da sua obra, traços do Ruba'iyat. O livro de Márcia contribui para mostrar a pluralidade dialógica e a inteligência do grande poeta português, pois na sua obra não há apenas a menção ao poeta persa, mas também produçõoes líricas influenciadas pela métrica e pelo ideário característicos do Ruba'iyat. Para quem é, como eu, apaixonada por Pessoa a leitura só aumenta nosso espanto e nossa admiração.

Fernanda Meireles, Juiz de Fora, jul 2009

terça-feira, 28 de julho de 2009

pessoa e crowley - grande encontro

Pessoa e Crowley em Lisboa -
podia ser uma cena para
'O dia em que a Terra parou'.
Grande Pessoa,
por onde vc vagou
meus passos tímidos
assemelham-se ao engatinhar das crianças
ou aos passos trôpegos de bêbados perdidos.
Tua clareza é sublime.
Fernanda Meireles, Juiz de Fora, jul. 2009

Não sei quantas almas tenho. F. Pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu