segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Um surto de crônicas

             
         Sábado é dia do Café Literário em uma das minhas escolas. Os meninos estão empolgados. Eu estou trabalhando como eles, neste segundo semestre, o gênero crônica. Sempre às sextas-feiras, que é a nossa "sexta literária", um dia voltado só para literatura. É o dia da semana de que eles e eu mais gostamos.               
       Para cumprir o prazo do evento precisei continuar, hoje, a  atividade de sexta passada.
       Já naquele dia o surto acima anunciado tinha dado seus primeiros sinais de vida através de um dos alunos que se dirigiu à minha mesa com um papel na mão, enquanto a classe fazia a leitura silenciosa do texto do dia. Ele me disse: "Professora, fiz uma crônica". Eis o texto:

              "Silêncio
           Na sala de aula vejo pessoas lendo num silêncio angustiante. Pessoas que não ligam para o que estão lendo. A professora olhando atentamente cada um na sala e se sentindo feliz pelo silêncio. Então quebrando o silêncio ela diz:
             __Vamos começar?"
       
        Eu li e ri.
           Dei mais uns minutos para a leitura silenciosa, depois li o texto com eles e discutimos vocabulário, pois se tratava de um texto mais técnico sobre o assunto.
         Então, o mesmo aluno volta à minha mesa: "Professora, fiz outra crônica."
         O texto segue abaixo:

                           "Pessoas diferentes
          Na minha sala de aula há pessoas muito diferentes. Há pessoas que fazem o melhor que podem e nunca estão satisfeitas. Há pessoas que não se interessam por nada. Há pessoas que acham que sabem de tudo. Há pessoas despreocupadas. E há pessoas como eu: meio-termo."

         Eu li novamente e respondi: Não faz assim q a professora apaixona. Ele e a classe riram.
         Hoje ele me trouxe mais textos de casa e apareceram mais alunos fazendo suas "crônicas". De repente, ao fim do dia, eu tinha a produção de duas turmas nas mãos para montarmos livros para o Café Literário. São textos singelos, simples, mas possuem a frescura da alma adolescente. Uma frescura, às vezes, meio dada à galhofa, mas repleta de vida. Eu voltei feliz mesmo com o frio absurdo e a chuvinha impertinente.
       Foi um surto de crônicas q eu espero se torne crônico, pelo  menos para alguns deles. E aí carregarão nos olhos aquele mesmo mistério que encontramos nos autores de que gostamos, com os quais nos identificamos.
         Têm sido muito doces os frutos que tenho colhido. Agradeço à vida os caminhos tortos q acabaram por me trazer ao dia de hoje. Boa noite, q estou cansada.

É o jongo do cateretê: adriana e waly na pista de dança.


http://www.youtube.com/watch?v=AKzMAKGUqG8
Quando criança
Me assoprou no ouvido um motorista
Que os bons não se curvam

E, eu,
Confuso
Aqui nesta pista de dança
Perco o tino
Espio a vertigem
Do chão que gira
Tal qual
Parafuso
E o tapete tira debaixo dos meus pés

Piro
Nesta pista de dança
Curva que rodopia
Sinto que perco um pino
Não sei localizar se na cabeça
Esqueço a meta da reta
E fico firme no leme
Que a reta é torta

Rei
Rainha
Bispo
Cavalo
Torre
Peão
Sarro de vez o alvo
Tiro um fino com o destino
E me movimento
Ao acaso do azar ou da sorte
No tabuleiro de xadrez

Extasiado
Piso
Hipnotizo
Mimetizo a dança das estrelas
Aqui neste point
A espiral de fumaça me deixa louco
E a toalha felpuda suja me enxuga o suor do rosto
Aqui nesta rave
Narro a rapsódia de uma tribo misteriosa
Imito o rodopio de pião bambo

Ê, Ê, Ê tumbalelê
É o jongo do cateretê
É o samba
É o mambo
É o tangolomango
É o baste estaca
É o jungle
É o tecno
É o etno

Redemoinho de ilusão em ilusão
Como a lua tonta, suada e fria
Que do crescente ao minguante varia
E inicia e finda
E finda e inicia e vice-versa

Ê, Ê, Ê tumbalelê
Nesta pista de dança

Pista de símios
Pista de clowns
Pista de covers
Pista de clones
Pista de sirenes
Pista de sereias
Pista de insones

Ê, Ê, Ê tumbalelê
É o jongo do cateretê
É o samba
É o mambo
É o tangolomango
É o baste estaca
É o jungle
É o tecno
É o etno
Ah, ah, ah, ah

Eu piro
Nesta pista de dança
Eu piso
Nesta pista de dança
Eu giro
Nesta pista de dança
Nesta pista de dança
Ê, Ê, Ê tumbalelê
Nesta pista de dança

sábado, 29 de outubro de 2011

O corpo cansado e a alma em brasa

  Chegando do simpósio junguiano, morta de cansaço, mas com a alma cheia de iluminações e dúvidas. Com a alma viva, portanto. Me senti muito em casa ouvindo falar de Jung. Uma cervejinha gelada e o mundo escorre pelas minhas mãos, resto eu comigo mesma, mas leve porque sei q sou gente e que minhas idiossincrasias me tornam humana. Não tenho de corresponder a ideal de ninguém, apenas ser leal a mim mesma.

http://www.youtube.com/watch?v=fcwDcfomjVI&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=QzG66TqEKtc

domingo, 23 de outubro de 2011

Nouvelle Chanson Française

Coralie Clément, Indecise:
http://www.youtube.com/watch?v=AHx9yoGYu3s

Memórias de menina cantadas no Boitempo

BRAÚNA
Baraúna
braúna
o pau canta no machado
o pau canta independente de machado
o nome canta
guaraúna
ibiraúna
muiraúna
parovaúna

De que são feitas minhas casas
minhas terras
meus cavalos?
De braúna
em meu catre de braúna o descanso de braúna
Meu passado
meus ossos de família
minha forma de ser
é de braúna

Braúna
para não acabar em tempo algum
para resistir
ficar na morte bem guardado
entre paredes d braúna eternamente

E disfarçar, braúna,
o que não é madeira, e chora.

Cinema, a outra paixão

          Com uma chuva fina e persistente e um friozinho, não havia melhor justificativa para um vinho e um filme. Achei na locadora aqui perto de casa "Cão Danado" do Kurosawa. Então o livro me levou ao filme e vice-versa. E deu para sentir a atmosfera opressiva de um calor tropical na Tóquio do aprés-guerre que só aumentava o dilema ético e histórico do personagem principal, um policial da homicídios de Tóquio q tem a sua arma roubada e com ela são praticados assassinatos e roubos. A miséria, a pobreza e a violência da Tóquio pós segunda guerra são apresentadas com uma honestidade e uma estética  perfeitas.Toshiro Mifune está soberbo em sua atuação e lindo. Ele é também um cão danado. A propósito, o delegado da Roubos de Tóquio, q o auxilia na recuperação da arma, dá um show de inteligência e perspicácia. Dele, duas frases me marcaram: "Às vezes, o mais importante não é saber a resposta, mas saber como perguntar" (com calma e inteligência ele conseguia saber sempre o q queria). A outra , a melhor das duas é: "Um cachorro louco sempre anda em linha reta".
            Para contrabalançar, assisti ao leve e hilário "Alta Fidelidade" com John Cusack. Ambientada em Chicago, a narrativa tem como cenário o circuito musical da cidade. O personagem principal é dono de uma loja de discos raros e vive às voltas com seus relacionamentos fracassados. Dá para fechar a noite sem aquela aura existencialista noir, mas com leveza e um riso na cara. É o q somos, com nossos erros e nossos acertos que, na verdade, acabam morrendo numa letra de música. O trailer para quem quiser ver:
           

sábado, 22 de outubro de 2011

Literatura japonesa

        Com esse post começo a pôr em dia minha dívida com a literatura japonesa. Sei que esparsamente tenho publicado haicais ou pequenos poemas de Yosano Akiko, mas ainda assim estava devendo meu depoimento sobre essa paixão que ocupa uma pequena parte da minha estante. Hoje, agora pela manhã, terminei de ler o relato autobiográfico de Kurosawa, que adquiri depois de ler um comentário do José Castello d'O Globo. Encontrei nele muito do q havia visto em Sonhos e depois, pelo final do livro, ele afirma q o filme é realmente formado por coisas marcantes q viveu. O livro cobre o período da infância até a produção de Rashomon por volta de 1950.  A ausência dos anos posteriores foi uma decisão do próprio Kurosawa.
          O primeiro contato com a literatura japonesa se deu ainda no início da faculdade quando comprei o livro de tankas de Takuboku Ishikawa. Depois fui me dar conta da relevânica da poética japonesa, especificamente dos haicais, quando fui estudar a literatura brasileira da chamada geração marginal, do grupo em torno de Leminski.
     Tempos depois adquiri "Trilha Estreita ao Confim", coletânea de haicais do mestre Bashô. Em seguida, fui às narrativas de Kawabata(prêmio nobel de literatura de 1968), de Junichiro Tanizaki ("As Irmãs Makioka", calhamaço q traz um retrato fantástico da ocidentalização do Japão na primeira metade do século XX) e encontrei o doce e sutil "Crônicas da estação das chuvas" do desconhecido (em terras brasileiras, lógico!) Nagai Kafu.
         De poesia encontrei também o pequeno volume "Descabelados" com poemas da inovadora Yosano Akiko, poetisa da vanguarda japonesa, feminista e dona de uma voz erótica linda:
                 para castigar
         os homens por todos seus
                pecados herdei
        a pele transparente
        longos pêlos corvinos
            Ainda há mais na minha estante para ler (mais Tanizaki, Murakami, Kawabata, Akutagawa, Kenzaburo Oe...). Dispor de mais tempo...     
                 
Deitado, pensava nas coisas.
A mão descansando
do peso do livro. (Ishikawa)

aos do mundo profano
  floresce incógnita
    a castanheira
           (Bashô)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

une chanson française pour toi

Lindo!! Lindo!!


http://www.youtube.com/watch?v=wnj9f2-_TKo

Ma belle amie
Je sais que tu viens
Que tu viens pour dire
Malgré ton désir
Que tu es ma lover
Oui, je suis ta lover
Car quand il est neuf heures
Moi je dois partir
Je fais semblent de dormir
Pour pouvoir retrouver
Tes mots secrets
Tes mots d'amour
Sous l'oreiller

C'est ma chanson française pour toi
Les rimes hesitent mais pardonne-moi
Je n'ai pas ta classe, ni ta cadence
Pour dire des mots d'amour
Comme en France

Je suis ta lover
Oui, tu es ma lover
Car quand il est neuf heures
Toi tu dois partir
Tu fais semblent de dormir
Pour pouvoir retrouver
Mes mots secrets
Mes mots d'amour
Sous l'oreiller

C'est ma chanson française pour toi
Les rimes hesitent mais pardonne-moi
Je n'ai pas ta classe, ni ta cadence
Pour dire des mots d'amour
Comme en France

Mon amour
Mon amour
Je veux que tu viennes toujours
Mon amour
Mon amour
Ton poème sous l'abatjour
Mon amour
Mon amour
Mon coeur qui bat comme un tambour
Mon amour
Mon amour
Si doux comme un petit-four
Mon amour
Mon amour
On se trouve dans en carrefour

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A força das coisas

          Hoje terminei a leitura do terceiro livro de Simone de Beauvoir da leva q adquiri recentemente. O volume de memórias retrata os anos posteriores à segunda guerra, cobrindo a ascenção de Charles de Gaulle na França, as independências das colônias africanas, a guerra da  Argélia e a chegada de Jânio Quadros e de Fidel Castro ao poder aqui na América. Dentre as inúmeras viagens narradas, está a visita dela e de Sartre ao Brasil, siceroneados por Jorge Amado e Zélia Gattai. Foi interessante ver o Brasil retratado assim por olhos estrangeiros, acostumados a conhecer o mundo sob as lentes marxistas e existencialistas. E por incrível q pareça nem esses olhos conseguiram ficar imunes e explicar o candomblé da Bahia!
        Mais uma vez, dentro dessas narrativas de memória, o que mais me marcou no texto de Simone de BEauvoir foram seu apego à realidade e a busca constante de ser sempre fiel a si mesma. Fidelidade que não quer dizer egoísmo ou narcisismo, mas uma interrogação constante sobre estar sendo, mesmo naqueles momentos em que o corpo se entregava ao calor tropical de Belém e caía desfalecido, ou quando os olhos se inchavam com a luz de Leningrado. Isto também fazia parte de estar sendo. Não uma neurose que sempre se pergunta motivada por possíveis culpas, mas um confiar absoluto em si, consciente das responsabilidades de existir, dos prazeres a que se pode entregar e das lutas q se tem q travar. Mais uma vez deu o que pensar. Que bom!

domingo, 16 de outubro de 2011

+ adriana calcanhoto

Teu Nome Mais Secreto
Adriana Calcanhotto

Só eu sei teu nome mais secreto
Só eu penetro em tua noite escura
Cavo e extraio estrelas nuas
De tuas constelações cruas

Abre-te Sésamo! - brado ladrão de Bagdá

Só meu sangue sabe tua seiva e senha
E irriga as margens cegas
De tuas elétricas ribeiras,
Sendas de tuas grutas ignotas

Não sei, não sei mais nada.
Só sei que canto de sede dos teus lábios
Não sei, não sei mais nada

http://www.youtube.com/watch?v=VQ5ZxhXOWXY

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Memórias de menina cantadas no Boitempo

PORTA DA RUA
Vive aberta a porta da casa
ninguém entra para furtar.
Por que se fecharia a casa?
Quem que se lembra de furtar?

Pois se há vida na casa, a porta
há de estar, como a vida, aberta.
Só se fecha mesmo esta porta
para quedar, ao sonho, aberta.

domingo, 9 de outubro de 2011

1984 - Big Brother is watching you

‎1984, para quem acha q Big Brother é apenas um programa de televisão inventado por americanos.
1984, para quem acha que o fascismo morreu com Hitler.
1984, para todos aqueles que pensam q a comunicação de massa não produz e reproduz sistemas políticos.
1984, para quem acha que science fiction nada tem a ver com a realidade.
Baseado na obra de George Orwell.

http://www.youtube.com/watch?v=Sdc0RHeY87s

                    
“1984 – Uma análise sobre o controle da informação no filme e livro” . Veja em: http://comunidade-geek.blogspot.com/2011/07/1984.html

Pescaria

si fuera hombre usaría
la navaja de mi abuelo para afeitarme -
rozaría lentamente el hueco del mentón,
trazaría los ángulos del rostro con precisión de esteta.
Ha de ser un magnífico ejercicio de conciencia y de pulso
mirarse cada día al espejo,
navaja en mano
                                          Teresa Arijón

.......................................................................

          río ipoh

 (      )
no entramos dos veces en el mismo río
no nacemos dos veces bajo la misma forma
no conocemos
nada en verdad. el río se va
pero antes nos deja:
la ilusión de haber leído
en el impulso del agua, una palabra
suya

(o
nuestra).

(    )
río de los misterios, río soberano
como un cielo
caído, devoras la tierra
en advertencia: es inútil aferrarse,
el mundo no te pertenece.
pero recibis en tu lecho las flores
con el candor de una niña, y las llevás
en tu cabellera
como una amazona.

( )
en sus aguas vi bañarse a las mariposas
y a las libélulas, vi pasar los huesos
la madera, la arcilla, escuché,
alta, la voz de mis sueños.
(temo que todo desaparezca.)

pero:
cuando me vaya, se quedará el río
                      (Bárbara Belloc) – trechos


Pescados em: http://caquiscaidosblog.wordpress.com/

Leituras

      Li nos últimos 10 dias:
     
                 e

        Li e fui lida...

 Não podia deixar de postar essa foto dela, com um sorriso de plenitude:
                 

sábado, 8 de outubro de 2011

Paris je t'aime

   I will live at   Paris. I promise. Eu morrerei  em Paris. Minha alma esquartejada pelos quatro cantos de Paris. Paris je t'aime!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cânticos de Cecília

IX

Os teus ouvidos estão enganados.
E os teus olhos.
E as tuas mãos.
E a tua boca anda mentindo
Enganda pelos teus sentidos.
Faze silêncio no teu corpo.
E escuta-te.
Há uma verdade silenciosa dentro de ti.
A verdade sem palavras.
Que procuras inultimente,
Há tanto tempo,
pelo teu corpo, que enlouqueceu.

O silêncio

      Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, não quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...