sábado, 31 de outubro de 2009

Sobre "As Cidades Invisíveis" de Italo Calvino

A prosa de Calvino me conquistou por sua beleza, simplicidade e leveza. Seus textos tecem como que uma trama no ar, sutil e efêmera , porém eterna. As palavras escolhidas com maestria, têm a pureza e o brilho de brilhantes, mas não são de matéria concreta, compactas ao contato. Não, sua natureza é quase etérea. Suas descrições são quadros elaborados pelo toque certeiro e exato, sem exageros, sem faltas. Formam imagens que atravessam o plano pictórico e aportam no espírito. É um filosofar existencial através da poesia e da imagem.
Suas Cidades Invisíveis jamais serão reveladas. Seu sentido é captado num instante, para, logo depois, desaparecer. Brilho de estrela cadente, efêmera, bela, cintilante, deixando-nos sedentos de nova visão, de nova leitura. Entretanto, se voltarmos às Cidades, elas já não serão as mesmas, contudo terão do brilho anterior a mesma natureza, noutra revivência. Leituras novas/estrelas cadentes novas que se sucedem e nunca se repetem, preservando o mistérios que envolvem sua origem, sua passagem por nós.
Significados invisíveis na linguagem equilibrada, fruto maduro, no instante exato em que já não é verde e também não é maduro demais. Significado invisível-fruto apanhado no ponto. A linguagem-mãe, árvore frondosa e propiciadora do fruto. Linguagem que é densa de seiva, porém com flores sutis e frutos efêmeros.
As Cidades Invisíveis nos habitam, escondem-se nos meandros de nossa alma. Somos Marco Polo e Kublai Khan ao mesmo tempo: o imperador de nós mesmos, desconhecedor de seu império, e o aventureiro na busca do conhecimento de si. Porém, as imagens não são as mesmas: O imperador, que ouve o relato, vê uma cidade diferente daquela narrada pelo aventureiro. E, ironia, maior: a cidade narrada por Marco Polo também não corresponde à cidade visitada.
As cidades invisíveis que nos habitam continuam cercadas por véus, a fome de Kublai Khan e as viagens de marco Polo continuam eternas. Sísifos de nós mesmos.

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