domingo, 31 de outubro de 2010

outras fotos

Eu e Ju, a grande amiga. Montou a festa porque tem culpa enorme no cartório: por causa dela eu voltei pra literatura. Alguém com quem se pode conversar sobre livros sem ser chato e alguém com quem se pode falar de banalidades com inteligência. Alguém com uma alma muito linda:
Agora, eu e a Wal: amigona e irmã camarada. Na presença dela, tudo é mais leve. Eu a apelidei de 'a sustentável leveza do ser':


Depois posto mais: tô cansada...

sábado, 30 de outubro de 2010

MAKTUB

    2h30 da manhã. Estou voltando do lançamento do meu livro de poesia, meu primeiro livro, abro aleatoriamente o Livro de Thelema e encontro:
   37 "Ó vós que estais além de Aormuzdi e Ahrimanes! bendito sois pelas eras." 3 + 7 = 10 = 1
   39 "Eles deram ao Êxtase a forma de uma lança , e atravessaram o velho dragão que estava sentado sobre a água estagnada." 3+9 = 12 = 3

               Quem tiver de compreender que compreenda.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Também quero opinar em eleição para papa

Leonardo Sakamoto

            Há semanas as campanhas eleitorais vêm bombardeando os brasileiros com imagens de seus candidatos beijando estátuas de santos ou rezando o Pai-nosso. Particularmente, tenho a certeza de que os dois são ateus ou, no máximo, no máximo, agnótiscos não-praticantes. Mas vá lá, este é um período especial e já discutimos exaustivamente neste blog sobre até onde vai a insanidade por um Dois-Dígitos-Confirma, o Santo Graal da política.
          Mas, ontem, em um discurso a bispos brasileiros, o ex-cardeal Joseph Ratzinger condenou o aborto e a eutanásia e, implicitamente, a pesquisa com embriões para obtenção de células-tronco. Ou seja, o que era esperado dele. Mas foi além, e afirmou que “os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”. Em plenas eleições brasileiras, Bento 16 pede para que os representantes de sua igreja orientem politicamente os fiéis.
           Conversei com uma pessoa da comunidade do Jardim Pantanal (aquele bairro da capital paulista que se esvaiu em lama nas últimas enchentes) sobre isso e, apesar de ser extremamente religiosa, discorda da avaliação de Ratzinger. “Na Bíblia, está escrito para dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. A gente tem que separar o que é política do que é religião, senão não dá certo.” É a gente simples da periferia de São Paulo ensinando bons modos para o Vaticano.
             Se eu também puder meter o bedelho em Conclaves, tenho algumas sugestões. Por exemplo: acho que quem foi da juventude hitlerista não pode ser participar da seleção. Ou quem acobertou casos de pedofilia dentro da igreja.
            Ao final de sua carta, ele defendeu a solidariedade. Mas de que tipo de solidariedade ele está falando? Da caridade? Uma ação pouco útil, que consola mais a alma daquele que doa do que o corpo daquele que recebe? Ou da solidariedade de reconhecer no outro um semelhante e caminhar junto a ele pela libertação de ambos? Se for a primeira, ele está pregando a continuidade de uma igreja superficial, que ainda não consegue entender as palavras que estão no alicerce de sua própria fundação.
         Se falou da segunda, a solidariedade como redenção do corpo e da alma, ele se referiu claramente à Teologia da Libertação. Prefiro acreditar que ele estava falando da primeira, pois seria irônico a atual administração do Vaticano (que dá continuidade à anterior) pregar algo que vem tentando soterrar há tempos.
           A Teologia da Libertação tem sido uma pedra no sapato da Santa Sé. Na prática, esses religiosos católicos realizam a fé que o Vaticano teme ver concretizada ou não consegue colocar em prática. Pessoas como Pedro Casaldáliga, Tomás Balduíno, Henri des Roziers e Xavier Plassat, que estão junto ao povo, no meio da Amazônia, defendendo o direito à terra e à liberdade, combatendo o trabalho escravo e acolhendo camponeses, quilombolas, indígenas e demais excluídos da sociedade.
          Imaginem se ao invés de Ratzinger, fosse Casaldáliga abrindo a boca para falar a bispos brasileiros. E a defesa da vida fosse feita de outra forma, retomando palavras que ele proferiu há tempos:
             “Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar! Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos.”

In: http://blogdosakamoto.uol.com.br/2010/10/29/tambem-quero-opinar-em-eleicao-para-papa/

domingo, 24 de outubro de 2010

Uma América pobre

O texto abaixo confirma o que eu disse a uma turma de segundo do ensino médio de uma das principais escolas particulares de JF há uns três anos: estamos nos tornando uma AMÉRICA, porém uma América pobre e sem exército, ignorante e preconceituosa. A cultura de massa conseguiu reproduzir, no Brasil, o 'american way-of-life'. Espero q o Renato Russo ainda esteja certo e que acabemos por cuspir de volta o lixo que andamos comendo. Espero q façamos nosso dever de casa.

Pelo amor de Deus, não copiem os EUA!

       Ao longo dos últimos 40 anos, nós, americanos, temos assistido, em nome de "valores" ou da "família", a ataques religiosos contra as mulheres e os homossexuais.
      Começou como reação a um movimento gay que ganhou grande ímpeto resistindo aos ataques da polícia de Nova York contra o bar Stonewall; e a um movimento feminista que celebrou uma vitória histórica em 1973, quando a Suprema Corte legalizou o aborto.
        O ressentimento por essas liberdades duramente conquistadas forneceu uma oportunidade aos políticos de direita e aos pastores evangélicos.
        Pastores deram a bênção aos políticos que compartilhavam da sua obsessão com a vida pessoal alheia.
        Desnecessário dizer que esses mesmos pastores logo se tornaram um espetáculo nacional, caindo um atrás do outro em escândalos, quer sexuais, quer financeiros.
          Mas os políticos covardes já entregaram a essa gente o direito de mandar em assuntos "morais".
          Agora, com crescente desânimo, vejo o Brasil seguir o mesmo caminho. Sabe-se que o evangelismo brasileiro tem suas raízes nos missionários americanos que chegaram há exatamente cem anos, e cujos descendentes estão impondo a mesma "moralidade" na política.
       Em uma carta aos candidatos, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais denunciou a "instrumentalização de sentimentos religiosos e concepções moralistas na disputa eleitoral".
         Em vez de ressaltar suas admiráveis conquistas na luta contra a homofobia ou suas antigas posições a favor do aborto legalizado, Dilma e Serra estão tentando agradar a essa mesma banda.
      Políticos corajosos teriam defendido uma outra moralidade. Denunciariam o fato de mulheres morrerem todo dia no Brasil por causa da criminalização do aborto.
        Denunciariam a Igreja Católica, que, em nome da "família", excomungou uma mãe pernambucana que providenciou um aborto para a filha de nove anos, grávida de gêmeos após ser estuprada pelo padrasto. Denunciariam que o número de assassinatos de gays no país cresceu 62% desde 2007 e que, de acordo com um estudo do Grupo Gay da Bahia, um gay é morto a cada três dias no Brasil.
         Para os americanos, isso é muito deprimente. Em vez de copiar os políticos americanos, que têm levado a nossa nação ao desastre e à paralisia, os brasileiros deveriam aprender uma lição com a Argentina, cuja presidente fez discursos eloquentes a favor de tratamento igual no casamento.
         Outra lição vem de Portugal, cujo premiê, José Sócrates, conseguiu a igualdade para todos os portugueses. Não é vergonhoso -sejamos sinceros- ver o Brasil ficar atrás da Argentina e de Portugal?
        Como aqueles países demonstraram, a moralidade e os valores têm, sim, um lugar na política. O Brasil oficial não se cansa de repetir que a tolerância é o valor por excelência do brasileiro. Mas não basta dizê-lo.
         Um dia, o debate sobre o aborto e o casamento gay terá o mesmo caráter antiquado que hoje tem a lembrança das disputas sobre o divórcio. Mas, para ver esse dia chegar, o Brasil precisará de políticos com muito mais coragem do que a demonstrada por Dilma e Serra.
         Para tornar o Brasil um país mais digno, os seus líderes terão, sim, que copiar os americanos. Não o que temos de mais detestável.
         Copiem, em lugar disso, Martin Luther King, morto depois de libertar os negros; os militantes de Stonewall, que saíram na porrada com a polícia de Nova York; e os juízes da Suprema Corte, que garantiram que nenhuma mulher morreria por ter praticado um aborto ilegal.
       Estes fizeram a grandeza de nosso país -a mesma grandeza hoje decadente, graças, também, aos fanáticos religiosos.

BENJAMIN MOSER, 34, americano,
é escritor, crítico e tradutor. Colunista de livros da revista "Harper's",
 é autor de "Clarice," (Cosac Naify, trad. José Geraldo Couto).

sábado, 23 de outubro de 2010

um pouco de arte: franz weissmann

a procura do vazio
na leveza da forma
obtida através do  trabalho alquímico
com a material bruta
gera a flor mineral
em apenas três pontos de apoio
o abstrato toca a matéria
num suave beijo
quase em adoração
                    Fernanda Meireles, 23.10.2010

Contistas brasileiros: João Anzanello Carrascoza

Carrascoza: "Gosto de habitar aquelas em que o silêncio diz mais que as palavras. No não dito, descobrimos o que não é possível enunciar"
 
No link abaixo, bela entrevista dada ao Portal Literal:

domingo, 17 de outubro de 2010

feriado na casa da minha mãe

Minha tia me contou do embate com as formigas que atacavam as roseiras: "precisava ver o carreiro colorido subindo o muro". Alma de artista, mesmo... da escolha da paleta de cores ao fazer seus bordados, todos modificados "porque as revistas deixam os riscos sempre muito apagados, sem vida", ao flagrante das formigas.

Uma sabiazinha fez ninho na samambaia da varanda. Por causa dela e de seu tempo de espera, a casa vive atenta. Não se pode brincar, gritar ou fazer tumulto na varanda. Esta é a nova lei lá em casa. Respeito e agradecimento pela escolha. "E não é qualquer sabiá, é sabiá do mato, mais arisco", diz minha tia. Minha irmã fotografou o evento, depois posto aqui.

De tardinha, levei minha sobrinha e uma amiguinha pra tomarmos sorvete. Estava uma tarde calma embora a cidade estivesse começando a encher por causa do carnaval de época. Minha alma estava leve na leveza do riso delas. Voltamos com o início da noite, havia um fiapo de lua por entre as nuvens. Na loja de roupas de época tocavam um jazz, Miles Davis, Parker ou Gillespie, algo assim de 40... No céu noturno e leve uma estrela devagarinho foi brotando... A natureza estava em silêncio, tudo parado, sem nenhum movimento naquela hora sagrada de Anubis. Nós três voltavamos pra casa aprendendo que ser mulher é o eterno paradoxo de buscar a leveza sendo carne.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

manhã de primavera

A manhã fria
de primavera
com as marcas
da chuva da noite
mostra-se grávida de tudo.
Flores, frutos, folhas,
tudo em viço,
com a força de vida
a explodir
a cada toque do olhar.

Do meu livro "Litterofagia  - escritas poéticas"
Fernanda Meireles

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ele chegou

 as grandes civilizações têm seus monumentos
as grandes cidades têm seus marcos.
a minha vida encontra nele
um novo horizonte
um novo caminho
que, na verdade, sempre esteve ali
à minha espera.

literariamente
não se configura nenhuma revolução estilística
ou um novo movimento literário.
nunca tive e não tenho tais pretensões.

ele está ali
como a flor de cerejeira que lhe estampa a capa
ou como os ipês amarelos que enfeitam a minha rua
apenas pra me dizer
que a vida renasce
que sempre há o que florescer
mesmo quando os galhos parecem secos
e a árvore está nua
e isso é simples, puro e imenso
como a vida.

Fernanda Meireles, 11.10.2010

eu e ele

domingo, 10 de outubro de 2010

a vida em brancas nuvens

      Essa semana reencontrei uma colega da época de faculdade e a gente acabou parando pra conversar e tomar um cafezinho com pão de queijo. Bom, conversa vai, conversa vem... como é típico nesse tipo de encontro, atualizamos nossas vidas uma pra outra. E isso significa, contar as voltas e reviravoltas costumeiras do viver. Depois de contar a ela sobre meu retorno à literatura, depois de investir um doutoramento em lingüística (coisa com a qual ela se surpreendeu, pois, dentre suas lembranças da época da faculdade, está a minha monitoria de literatura portuguesa), depois de lhe contar do meu casamento e do meu ‘descasamento’ já há 4 anos, depois de lhe contar sobre meu projeto de casa nova à margem de uma mata, de lhe contar outras tantas desventuras também com o mundo acadêmico, a minha reencontrada amiga abaixou a cabeça e disse-me em meia voz que sua vida continuava a mesma coisa. E isso inclui não só sua situação profissional e financeira, como até mesmo seus desajustes afetivos. Fiquei meio sem saber o que dizer porque sou um ser do movimento... gêmeos, signo de ar, né... Também filha de Iemanjá, segundo alguém por aí e, portanto, também filha de outro movimento, o das águas...
            Sei que aquilo me incomodou depois q nos separamos... Eu tenho mudado bastante. Digamos q o vento tem se tornado mais leve, a caminho de ser brisa, coisa q tenho buscado, sem pressa, mas com constância. Entretanto, ser imóvel e não deixar a vida passar por vc é coisa q me assombra, é de uma covardia silenciosa e cotidiana, é coisa de quem se trai... Não sei quem está certo, não sou juiz de ninguém... mas a vida pulsando na veia, o dia de amanhã se descortinando, o futuro te esperando mesmo q seja no fio da navalha, foram feitos pra q possamos mostrar de q matéria é nosso espírito. Como tudo na minha vida termina em poesia, acabei me lembrando das brancas nuvens de F Pessoa e de V de Moraes:

“Quem passou pela vida em brancas nuvens
e em plácido descanso adormeceu.
Quem nunca bebeu das fontes da alegria,
da paz, do amor, do silêncio e da harmonia.
Quem nunca se deleitou com a meditação.
Quem nunca experimentou o êxtase interior.
Vegetou. Se arrastou do útero à cova...
Foi um espectro de homem, não foi homem.
Só passou pela vida, não viveu.” F Pessoa

“Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não.” V de Moraes

Fernanda Meireles, 10.10.2010

campanha contra o obscurantismo

Obscurantismo
       Ganha destaque, na atual etapa da corrida sucessória, o tema da descriminalização do aborto. Trata-se de questão complexa, que por envolver convicções pessoais e religiosas só poderia, a rigor, ser decidida legitimamente por meio de uma consulta popular.
      Nem por isto é despropositado que o assunto se torne presente no debate eleitoral. É direito do cidadão conhecer as opiniões dos candidatos sobre o tema, mas em vez de ocasionar uma discussão racional e franca, a disputa sucessória tem-se caracterizado por uma atitude que, sem exagero, merece ser classificada como obscurantista.
     O termo vem a propósito, não pela rasa identificação que se costuma fazer entre a firmeza de convicções religiosas e um espírito medieval de caça às bruxas. Pode-se perfeitamente ser contra o aborto, em qualquer circunstância, sem ser um fanático fundamentalista -e mesmo sem professar nenhuma religião.
      O obscurantismo se estabelece na campanha eleitoral quando o que se procura é antes confundir o eleitor do que esclarecer as próprias posições.
     Tome-se, por exemplo, o slogan do "direito à vida", presente na propaganda eleitoral de ambos os candidatos ao segundo turno. Como se sabe, tais palavras têm um sentido claro para o eleitorado católico, e cristão de modo geral, no que apontam para uma condenação do aborto, mesmo nos casos já admitidos na lei brasileira -o de gravidez decorrente de estupro e o de risco de morte para a mãe.
     Nenhum dos dois candidatos propõe, ao que se saiba, a revogação desse dispositivo. Mas que recorram ao lema do "direito à vida" é sintomático da dificuldade de ambos em defender o que já existe, na legislação, de contrário às ideias dos eleitores que pretendem conquistar.
     Esta Folha considera que a legislação vigente deve ser flexibilizada, de modo a permitir que, já sofrendo numa circunstância evidentemente dramática e dolorosa, qualquer mulher possa interromper a gravidez sem que seja considerada criminosa por isto.
    Cerca de 1,1 milhão de abortos clandestinos são feitos anualmente no país. Em condições muitas vezes precaríssimas, constituem a terceira ou quarta causa de mortalidade materna no Brasil. Em 56 países, que representam 40% da população mundial, o aborto é permitido sem restrições até a 12ª semana de gravidez -limite máximo que se poderia admitir.
      Com certeza, políticas públicas de esclarecimento e garantia de acesso a meios anticoncepcionais, como a pílula do dia seguinte, poderiam, se amplas, intensivas e duradouras, prevenir a gravidez indesejada e reduzir de maneira drástica o número de mulheres que se valem, numa situação extrema, do traumático recurso.
       Alguns setores religiosos, como se sabe, opõem-se até mesmo ao uso de anticoncepcionais. A  sociedade como um todo evoluiu na direção oposta -e um plebiscito sobre o aborto, mesmo se não confirme essa tendência, haveria, ao menos, de esclarecer os vários aspectos envolvidos na questão.

Editorial Folha de São Paulo, 10.10.2010

o lugar do escritor

sábado, 9 de outubro de 2010

um dos mais conhecidos de kaváfis

VELAS


Os dias do futuro erguem-se diante de nós
como uma série de pequenas velas acesas –
pequenas velas douradas, quentes e vivas.

Os dias passados ficam atrás,
uma triste figura de velas apagadas;
as mais próximas ainda exalam fumaça,
velas frias, derretidas e recurvadas.

Não quero vê-las; entristece-me seu aspecto,
e entristece-me lembrar seu primeiro clarão.
Adiante contemplo minhas velas acesas.

Não quero voltar-me para não ver, apavorado,
com que rapidez a sombria fileira se alonga,
com que rapidez se multiplicam as velas apagadas!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mais sobre a sombra fascista q ronda a democracia brasileira

Brasil regride séculos com programa eleitoral sobre Deus, aborto e família

Mauricio Stycer, Crítico do UOL

De um lado Dilma, de outro Serra. No meio, “a família brasileira”, esta entidade abstrata, a quem os dois candidatos resolveram se dirigir com promessas de “respeito à vida” e a Deus, como se o Brasil vivesse uma era de obscurantismo e perseguição religiosa.
Um atraso de séculos, dramatizado pelo discurso dos dois candidatos e de apelações variadas. No caso de Dilma, o já recorrente reforço do presidente Lula, que disse ter sido vítima de mentiras, como a sua candidata: “Disseram que eu ia fechar as igrejas”. Já Serra, fez desfilar pela tela mulheres grávidas, enfatizando o lema de que é “a favor da vida”, do “dom da vida” e da “mãe brasileira”.
Em sua primeira frase, Dilma disse: “Quero começar este segundo turno agradecendo a Deus por me ter concedido uma dupla graça”. Serra, na imagem que abriu seu programa, apareceu discursando sobre a sua ida ao segundo turno e rogou: “Com Deus, vamos à vitória”.
O programa da petista atribuiu a “uma corrente do mal” na Internet a divulgação de mentiras a seu respeito. “Dilma respeita a vida e as religiões”, disse a narradora, repetindo o presidente Lula e a própria candidata.
Serra, apresentado como “do bem”, mostrou como pretende confrontar a petista: “Não mudo de opinião em véspera de eleição”. E repetiu seu bordão sobre “o direito à vida”. E o narrador, em outro momento, lembrou que “diferente do PT de Dilma”, Serra “sempre condenou o aborto”.
Até ao fazer promessas de cunho objetivo, os candidatos impregnaram o discurso com palavras de apelo religioso e moral. “Para fortalecer a família brasileira, Dilma vai construir mais 2 milhões de moradias e, ao mesmo tempo, melhorar o sistema de saúde”. Serra falou em “devoção às instituições democráticas”.
Um desastre. Num Estado laico e democrático, é assustador ouvir os candidatos à Presidência da República recorrerem a Deus para conseguir votos. (grifo meu)

08/10/2010

(Eu sei q é um blog de literatura, mas não há como silenciar quando o obscurantismo bate à porta. Espero que as pessoas comecem a tomar consciência do q de fato anda acontecendo no Brasil  disfarçado de religião. Há um projeto autoritário  de nação sendo gestado e ninguém fala nada.)

domingo, 3 de outubro de 2010

Huxley e a democracia brasileira

         Estou inserindo novamente e atualizando o post sobre o livro "The Devils Of Loudun", "Demônios da Loucura" em português, de Aldous Huxley como uma homenagem a  este dia 03 de outubro de 2010, dia da Festa da Democracia Brasileira. Essa minha homenagem pode parecer bastante irônica ou um contra-senso, entretanto eu quero apenas alertar para um fenômeno que vem crescendo no Brasil, de forma acentuada, sem que ninguém dentre aqueles defensores da democracia e da liberdade  se pronuncie sobre isso. Estou falando da crescente aliança entre religião e política no Brasil, aliança fascista por excelência. Juiz de Fora, nossa  "Manchester Mineira", "cidade da cultura e do trabalho", mostrou na última eleição para prefeito que realmente anda na "vanguarda do progresso estrada afora". Às vésperas do dia da eleição, os jornais da cidade publicaram um manifesto de pastores evangélicos conclamando os eleitores a escolherem um dos  candidatos. O movimento religioso que se formou acabou revertendo o resultado das pesquisas.
      Sabemos que interesses políticos e econômicos se valem de preconceitos e inculcações religiosas para se estabelecerem. Essa semana uma aluna minha, adolescente de 11 anos, disse que a mãe não iria votar na canditada do governo porque o pastor falou isso e aquilo.  Não está em questão a candidata, mas a forma como o voto está sendo obtido: o terror religioso, a doutrinação, como ferramentas políticas. Quando sabemos que existem grupos que fazem qualquer coisa pelo poder, eu fico temerosa em relação ao futuro do Brasil.
      Em nosso país, de um lado ou de outro, há pessoas de diversos credos apoioando partidos políticos ou mesmo participando como candidatos. Esse também não é um fato novo na história brasileira, nem na história da humanidade de forma geral. Nos casos em que a postura partidária é sustentada por uma opção ideológica amadurecida, nos casos em que as coisas são tomadas e respeitadas dentro de seus respectivos dominios, a opção partidária se justifica afinal todos somos agentes políticos, independente de sermos ou não agentes religiosos.  Me assusta é a forma como as coisas vêm acontecendo, pois quando se lança mão de preconceitos, inverdades ou mesmo da venda descarada de votos, os fatos configuram-se num retrocesso político, disfarçado em discurso religioso doutrinário.
        O livro de Huxley mostra como o fanatismo pode servir, além de meio de escape para histerismos, para manobras de poder e interesses políticos, e isso lá na Idade Média. Caetano Veloso realmente tem razão: vivemos noutra Idade Média, situada no futuro, não no passado...