terça-feira, 27 de setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

Fechando o domingo

        Encerro meu fds cinematográfico com a versão produzida pela BBC para Crime e Castigo. É uma overdose (são dois dvds), mas vale a pena porque a produção, embora para a televisão, com o intuito de popularizar o clássico, foi bem feita, com excelente roteiro e bastante fiel ao original. Não é uma megaprodução hollywodiana, cheia de efeitos especiais, porém não deixa de provocar o telespectador com o clima de tensão psicológica e com os questionamentos morais, marcos da obra escrita.
                             

+ sci fiction

    
             Dois filmes: uma mesma epopéia - o conflito humano de se deparar consigo mesmo. São  duas produções, a soviética de 1972 e a americana de 2002,  ambas baseadas no texto de Stanislaw Len. A narrativa vai muito além de ser uma simples história de aventura espacial. Solaris, o planeta em estudo, parece uma metáfora do inconsciente humano, tanto q é caracterizado por ser um grande oceano. Sua influência sobre as tripulaçoes terráqueas que vão estudá-lo constitui-se em projeções muito reais de conflitos afetivos reprimidos. O personagem principal, o psícólogo Kris, enviado da Terra para 'salvar' o q resta da tripulação reencontra, na nave, sua mulher vítma de suicídio, que lhe aparece após uma noite de sono. Ele carrega consigo a culpa pelo ato extremo de Rheya num momento de crise conjugal.
         A versão americana traz o galã George Clooney no papel principal e tem a direção de Steven Soderbergh.
                     
         A obra de Soderbergh é bastante fiel à versão original russa de Andrei Tarkovski. A obra foi uma resposta cinematográfica, em tempos de Guerra Fria, ao filme 2001: uma Odisséia no Espaço. Porém a produção russa fala muito mais alto ao q temos de mais humano: medos, culpas e desejos.


           
 
Abaixo o trailer soviético e o americano:
http://www.youtube.com/watch?v=1Tob56MebI8
 
http://www.youtube.com/watch?v=ZYTmdsTEiJg

Crônica do José Castello

Simone de Beauvoir, a escrava
           Encontro, em algumas anotações que fiz para uma conferência sobre Simone de Beauvoir _ realizada em 2009 na Maison de France, no Rio _ uma frase de Simone que continua a me espantar. Diz ela: "Eu sei que não podemos jamais nos conhecer, mas apenas nos narrar". É todo um conceito clássico de "ficção" que desaba. A ficção não se passa só nos livros, não é matéria exclusiva dos escritores, ou da literatura. Ao contrário: é condição fundamental do existir.
            Avanço nas anotações sobre Simone de Beauvoir: "Sou em mesma a matéria de meus livros", ela diz, sem qualquer ilusão a respeito do que os psicólogos chamam de "criatividade". Sim: o escritor cria, mas é sempre a partir de si. Cria, mas com os braços amarrados. Tem a boca amordaçada. Escreve a partir de um vazio que encontra em si mesmo, como ouvi, há poucos dias, em uma palestra da Semana Literária do SESC, em Curitiba, de minha amiga Eliane Brum. Cada vez mais sábia, a Eliane.
          A ficção é (ou tenta ser) o preenchimento de uma falta que todos carregamos, diz Eliane. Em consequência, o outro com que o escritor se relaciona enquanto escreve não está fora dele, mas vem de seu interior. Ao escrever, o escritor se torna outro, e só assim, precariamente, preenche esse vazio que, a rigor, continua ali, apenas encoberto. A proliferação frenética e sempre insuficiente dos pseudônimos de Fernando Pessoa é prova suficiente disso.
          Contudo, não é "qualquer coisa" que podemos inventar para preencher o vazio que nos leva a escrever. Agora, em vez de Simone, ouço Jean-Paul Sartre: "O homem só pode escolher aquilo que o empurra". Ainda é algo que lhe vem desde fora _ algo que vem e o oprime, o atiça, o faz andar (escrever). O escritor escreve, ou é escrito? A escrita é, na verdade, o acolhimento e a tranhsformação de uma pressão. Sua incorporação, como energia, ao corpo físico. Seu devorar, seu mastigar (Oswald). Escritores devoram _ e depois regurgitam em seus textos _ os monstros que o empurram.
            É por isso que todo escritor está sempre aquém de seus projetos. Deseja , escreve isso; escreve aquilo. Busca uma coisa; encontra outra coisa. Nenhum escritor é dono de seu texto e é da aceitação dessa condição dolorosa que ele (se) escreve. Ou simplesmente se copia? A literatura, me lembra Simone, também se constrói, como um edifício, uma ponte, ou uma prótese. É ficção, ou literatura não é. Mas não como um projeto, ou uma carpintaria (essência), e sim como algo que se impõe (existência).
            Derrota dos escritores "cheios de si": quando feita para valer, a literatura é um ato, e não um manto, ou uma coroa. É, talvez, uma travessia. O escritor arrasta seu corpo através das palavras. Elas o marcam, elas o ferem. Todo plano (projeto) se torna, então, um fracasso: a travessia do deserto (do vazio de que nos fala Eliane) não tem garantia alguma. Se a literatura é um ato, mais que um ofício, isso acontece porque o escritor escreve, antes de tudo, com seu instinto. Não tem certeza de que faz a coisa certa. Não chega a realizar o que deseja realizar. Como um homem que deseja construir uma casa, mas cava um poço.
            Daí, nos recorda Simone de Beauvoir, a angústia ser inerente ao ato da escrita. O escritor, ao escrever, fracassa. Mas é ao fracassar que ele escreve! Escrever, portanto, é submeter-se. A quem? A si. Mas este "si" não é o Eu. Este "si" o que é então? Resume Simone de Beavoir: "Escrever é seguir o ditado de uma espécie de ditafone que temos dentro da cabeça".
            Destino trágico, mas feliz, do escritor: tornar-se um copista de si. Nenhuma essência, nenhum misticismo, nenhuma relação com a verdade, ou a sinceridade: simplesmente tomar posse, seja do que for (seja do que se é) e fazer algo isso. Deixar entrar esse outro que nos empurra. Eis o destino do escritor: submeter-se. O que, na trilha dos pensamentos de Simone, se parece com uma escravidão.
In: http://oglobo.globo.com/blogs/literatura/posts/2011/09/17/simone-de-beauvoir-escrava-406227.asp

sábado, 24 de setembro de 2011

Dolls, mais uma vez.

                           
        Hoje eu parei novamente para ver o filme Dolls, último filme do diretor Takeshi Kitano. O filme é maravilhoso. Vai ser daqueles para sempre se assistir novamente. Mistura o drama das relações humanas contemporâneas, num Japão do século XX, com o tradiconal e popular teatro de bonecos, o Bunraku, do século XVII.
        Dolls é um filme de arte, com fotografias maravilhosas, um tratamento de cor que transforma, cada quadro,  cada cena, numa tela de arte. O roteiro tem na história de  Matsumoto e Sawako o fio central, através do qual se entrelaçam mais duas histórias de paixão, dor e espera. Porém quem acha q a temática o transforma num melodrama ocidental e, principalmente, ibérico, se engana. A narrativa é densa, mas o tratamento dado por Kitano torna as histórias sublimes e belas, apesar de trágicas.
             
O trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=W-7eNtLia6o

O que fazemos conosco q muitas vezes nos tornamos dolls?
http://www.youtube.com/watch?v=8hU8YmP6sHk

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Um poeta refugiado em Buenos Aires

      Coppola dirige Vincent Gallo (um Adônis de olhos azuis) pelas ruas de Buenos Aires e conta a história de Tetro um poeta de origem americana que se auto refugiou em Buenos Aires fugindo de um conflito familiar de poder, vaidade e rivalidade. Há uma aura de Édipo Rei no roteiro...
    O filme é quase todo em preto e branco com belíssima fotografia como não podia deixar de ser em se tratando de Coppola.
                  

O trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=XJ_XTIsMKig

Memórias de menina cantadas no Boitempo

BRINCAR NA RUA
Tarde?
O dia dura menos que um dia.
O corpo ainda não parou de brincar
e já estão chamando da janela:
É tarde.

Ouço sempre este som: é tarde, tarde.
A noite chega de manhã?
Só existe a noite e seu sereno?

O mundo não é mais, depois das cinco?
É tarde.
A sombra me proíbe.
Amanhã, mesma coisa.
Sempre tarde antes de ser tarde.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Achados e perdidos

        Generalizando, e dando ao caso um toque emocional de exagero, levo metade do dia a procurar o que se extraviou na véspera.
         Não, não tentem ajudar-me, ó bem-amadas, pois não se trata de jóias e, se por acaso eu as houvesse herdado, não teriam para mim outro valor senão o de empenhá-las pouco a pouco.
         O que eu perco são coisas imponderáveis, suspiros não, mas pensamentos, se assim posso chamar o que às vezes me borboleteia na cuca e que procuro transfixar no papel, antes que um súbito buzinar ou britadeira as mate de nascença.
        E, enquanto procuro traçá-las a lápis no papel, pois graças a Deus não pertenço intelectualmente à era mecânica, às vezes me parece que, por exemplo, um manuscrito me saiu um garrancho, ou, antes, um gancho, que faz pender a linha destas escrituras e por conseguinte a linha do pensamento.
       Estão vendo? De que era mesmo que eu estava falando? Ah! era dos papéis escritos, extraviados, esqucidos.
        Quem sabe lá como seriam bons!
       Quanto a este, que tive o cuide de não perder, o melhor será colocar-lhe no fim os três pontinhos das reticências...
         Ninguém sabe ao certo o que querem dizer reticências.
        Em todo caso, desconfio muito que esses três pontinhos misteriosos foram a maior conquista do pensamento ocidental...

domingo, 18 de setembro de 2011

"Viver sem Tempos Mortos"

         Hoje foi um domingo ímpar em minha vida. Um dia em q mais claramente ainda vi q meus passos, mesmo q tortos,  sempre me guiaram para o caminho onde estou.
       Hoje foi um dia para sempre.
       Hoje reencontrei Simone de Beauvoir na voz, no porte, na imagem, na luz e no corpo de Fernanda Montenegro.
         Hoje assisti ao monólogo Viver sem Tempos Mortos, criado por esta  a partir da obra daquela. Não reencontrava  a obra de Simone desde os vinte anos, quando li O Segundo Sexo. E o reencontro foi leve, lúcido e profundo, de me deixar por vezes com um meio sorriso na cara, outras vezes com uma meia lágrima nos olhos. E percebi o quanto do texto ficou para sempre marcado na minha trajetória nesses vinte anos q se seguiram àquela primeira leitura. Percebi q mesmo sem o perceber mantive-me fiel ao q o texto fez nascer em mim naquela época. Descobri que mantive-me fiel, mesmo nas minhas incoerências, ao tornar-me mulher, pois segundo Simone, não nascemos mulher, tornamo-nos mulher.
        Constatei q a principal pergunta - o que é ser mulher? - mantêm-se viva em mim, produzindo dia a dia novos frutos que são, no seu conjunto, o que eu, verdadeiramente, sou.  Libertária, no árduo e contínuo exercício diário de me fazer mulher livre. Porque também a liberdade é uma construção na qual muitas vezes lutamos contra nós mesmos.
       No texto de Simone de  Beauvoir, na interpretação de Fernanda Montenegro, me reencontrei e me vislumbrei, passado e futuro no momento presente de ser inteira existência.
                         
        Pra quem quiser ver nas palavras da própria atriz, uma entrevista para o programa Metrópolis da Cultura:
http://mais.uol.com.br/view/1xu2xa5tnz3h/metropolis--entrevista-com-fernanda-montenegro-04023970D4B92346?types=A

sábado, 17 de setembro de 2011

O último preto véio do blues

David 'Honeyboy' Edwards
b. June 28, 1915, in Shaw, Mississippi
d. August 29, 2011 in Chicago, Illinois


“Eu já devia estar morto há mais de cinqüenta anos, mas Deus ainda não estava pronto para me receber”.

David “Honeyboy” Edwards, o último da geração dos “Delta Blues Singers”, músicos do Mississipi que  criaram as raízes do blues.

Caetaneando

Nosso estranho amor

Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer

Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah! Mainha deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar e sigamos juntos
Ah! Neguinha deixa eu gostar de você
Prá lá do meu coração não me diga
Nunca não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nós dois
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor

http://www.youtube.com/watch?v=zpWAiRBIlXk
 

Un film

Um dos filmes mais lindos a que assisti nos últimos anos. Leveza, conflito, graça, amor, solidão, gente, século xxi... e ainda em espanhol!
        

Sinopsis.
Martín es un fóbico en vías de recuperación. De a poco va saliendo del encierro en su monoambiente y su adicción al mundo virtual. Mariana, recién separada, tiene tan desordenada la cabeza como el departamento en el que se refugia. ¿Deberían conocerse, no? ¿Cómo se pueden encontrar en una ciudad superpoblada y caótica como Buenos Aires? Medianeras. Lo mismo que los separa es lo que los une.
Notas del Director.
Medianeras es el resultado de distintas ideas que alguna vez, que ya no recuerdo, se empezaron a encontrar. Casi todas producto de las observación y la curiosidad por entender a Buenos Aires y los que la vivimos en estos días. Hace poco tiempo leí unas líneas de Luis Martín-Santos que bien podrían haber inspirado la idea sobre la que trabajé: “… un hombre es la imagen de una ciudad y una ciudad las vísceras puestas al revés de un hombre, que un hombre encuentra en su ciudad no solo su determinación como persona y su razón de ser, sino tambien los impedimentos múltiples y los obstáculos invencibles que le impiden llegar a ser.” Psiquiatra, claro. Me gusta pensar Medianeras como una fábula urbana. Una construcción artificial y graciosa sobre la vida moderna en las grandes ciudades. Siguiendo la relación que propone la película con la arquitectura debería decir que Medianeras estáconstruída sobre cuatro pilares/columnas.

O trailler:
http://www.youtube.com/watch?v=229QZIbCYvQ

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Memórias de menina cantadas no Boitempo

ANTOLOGIA

Guardo na boca os sabores
da gabiroba e do jambo,
cor e fragrância do mato,
colhidos no pé. Distintos.
Araticum, araçá,
ananás, bacupari,
jatobá... todos reunidos
congresso verde no mato,
e cada qual  separado,
cada fruta, cada gosto
no sentimento composto
das frutas todas do mato
que levo na minha boca
tal qual me levasse o mato.



AQUELE CÓRREGO
Tão alegre este riacho.
Riacho? Gota d'água em tacho,
nem necessita pinguela
para chegar à outra margem.
Um salto: salto a corrente.
É ribeirão de presépio,
é mar de quem nunca viu
o mar, nem prevê o mar.
Tão festeiro, tão brincante
de lambaris rabeando
na tranparência da linfa.
Tão espelho, tão pedrinhas
de luz chispante em arestas.
Que nome ele tem? Não tem
nome nenhum, tão miudinho
ele é. Pois é, qual riacho
qual nada. Ele é mesmo corgo
ou nem isso. É meu desejo
de água que não me afogue
e onde eu veja minha imagem
me  descobrindo, indagando:
Que menino é esse aí?

Que menino é este aqui?
Não sei como responder.
A agüinha treme, trotina
sob o calhau atirado
por meu irmão. Ou por mim?
Melhor é deixar o corgo
brincar de ser rio e ir
passeando lambaris.

domingo, 11 de setembro de 2011

Crônica do José Castello

Mensagem a leitores assassinos
         Em que medida somos nós, leitores, que destruímos a reputação de um livro? De que maneira leituras apressadas, indiferentes, superficiais, acabam por matar grandes livros? Sempre achei que o leitor não é só leitor, é co-autor dos livros que lê. Co-autor, mas pode ser também o assassino dos mesmos livros. Isso sem importar que sejam grandes livros, ou pequenos livros.
         A propósito desses pensamentos, recordo o capítulo LXXI das "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis. Chama-se "O senão do livro". É um dos muitos intervalos abertos por Machado para que seu narrador dialogue, francamente, diretamente, sem disfarces lamentáveis e sem gentilezas desnecessárias, com seu leitor.
        Escreve Brás Cubas: "O maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem..."
         Publicadas no ano de 1880 _ portanto há 131 anos! _, as "Memórias póstumas de Brás Cubas" carregam uma mensagem que atinge em cheio o peito engravatado _ ou decotado _ do leitor contemporâneo. Não só a ele, talvez nem mesmo a ele, mas aos mitos que o cercam. Dizem (os editores, os jornalistas, os revisores, os especilistas) que o leitor de hoje tem pressa e, portanto, não suporta, não pode aguentar, a lentidão. Repetem os pensamentos de Brás Cubas.
         Repetem a reflexão de Brás Cubas quando afirmam que o estilo deve ser direto, "cinematográfico", capaz de sincronizar com o cinema, com a TV, com a internet. Em um mundo de imagens, as palavras devem se comportar como flashes. E mais nada. Nada de textos longos, nada de divagações, ou meditações, nenhuma reminiscência. Nenhum contorno, nenhuma reflexão, ou digressão, porque o leitor contemporâneo, sempre apressado, sempre pragmático, impecável e prático, interessado apenas em consumir o sangue das palavras , não dispõe de tempo, nem de energias, tampouco de paciência, para coisas assim.
             Dizem os redatores modernos que o estilo deve ser reto, evitando-se assim o vacilar dos ébrios. Como se a realidade tivesse a retidão de uma bula de medicamentos, ou de uma receita de bolo. Como se a vida se desenrolasse, firme e elegante, como uma passadeira turca! O estilo deve ser claro (o leitor contemporâneo não tem paciência, nem tempo, para divagações, e além disso odeia pensar, não suporta o relativismo que define a arte). O leitor contemporâneo, dizem ainda, busca mensagens prontas, verdades simples e fechadas, dogmas se possível for. Lê _ quando lê _ em busca de um espelho brilhante e límpido, que reflita sem complicações a clareza da vida. Diz o leitor de hoje coisas assim e, sem saber, mas fazendo, repete as meditações de Brás Cubas.
         O leitor contemporâneo, diz-se ainda, deseja regularidade e equilíbrio. Busca desempenho, preocupa-se, mais que tudo, com as performances! Ritmo regular, fluência inabalável, direção certeira. Clareza de propósitos, exemplos simples, passos firmes de executivo, ou de modelo de passarela. Ele quer ler, sim. Mas os escritores atrapalham tudo com seus livros rebuscados, cheios de pensamentos, de divagações e de dúvidas. Ele ama os livros, mas livros que tenham a firmeza de um manual e que o ajudem a saber como usá-lo, com que meios e para quais propósitos. Os escritores, mais uma vez, atrapalham tudo! Fazem tudo ao contrário!
          Cento e trinta e um anos depois, ainda prefiro a idéia que Machado leva à boa de Brás Cubas: será que o problema não está em nós, leitores? Não seremos nós, tantas vezes, com nossa pressa, nossa exigência de regularidade e de clareza, nosso pragmatismo, assassinos de livros? Tantas e tantas vezes, o problema de livros, grandes livros, não estará em nós, seus leitores?
              Os calendários ainda insistem em me convencer de que Machado de Assis foi um escritor do século 19. Que nada! A cada ano que passa, Machado se torna nosso inseparável contemporâneo. Ele pode ser aquele vizinho estranho e solene que você, olhando-o só de banda, sem dar grande atenção ao coitado, considera só um chato! Cuidado: ele sabe muito mais a seu respeito, inocente leitor, do que você mesmo.
In: http://oglobo.globo.com/blogs/literatura/

                                             

O onze de setembro de cada um e de todos

Passando pelo Facebook hoje de manhã encontrei um levantamento dos onze de setembro. Abaixo seguem os posts relativos a cada um.

1º. O AMERICANO:  "Quem é que ainda aguenta este marketing do 11 de setembro? Tudo bem que eles têm Cole Porter e eu não precisaria citar Chet Baker nem Louis Armstrong, etc, mas que eles são o país mais belicoso do mundo não tenho dúvida. Um país em que uma criança de 12 anos, pode comprar uma arma para se defender? Do quê? De quem? Alienígenas? Do coleguinha da escola? São um país de acentuada xenofobia." CArlos Eduardo Leal

2º. O CHILENO: "Vítimas em 2001, EUA foram os algozes do 11 de setembro chileno - JP online

http://www.jornaldaparaiba.com.br/
Antes de serem vítimas do 11 de Setembro de Osama bin Laden, os Estados Unidos foram algozes num outro 11 de setembro, no Chile, 38 anos atrás." Edson Leão Ferenzini

3º. O BRASILEIRO: "Dez anos atrás, a estas horas, estava tentando ir deitar. Tinham assassinado o prefeito de Campinas, Toninho do PT. (Mais tarde, a polícia de Alckmin diria q era crime comum. A polícia de Lula concordaria. A viúva, não! Há anos tenta uma apuração maior do crime). Na manhã seguinte, dia 11, liguei a TV querendo notícias. O q vi me parecia um filme norte-americano de catástrofe. As Torres Gêmeas apagaram o crime hediondo de Campinas." Renato Janine Ribeiro

4º. O FICCIONAL/REAL: "Mais um 11 de setembro. Este, ninguém notou. É o dia em que o personagem-título de Profissão Repórter, o filme de Antonioni q se passa na Africa, é morto. Nunca li nada sobre essa coincidência. No começo, se diz que é 1973. Os dias vão passando e dia 11/9 ele é morto. No mesmo dia q Allende. Aparentemente, meríssima coincidência." Renato Janine Ribeiro

5º.  O MEU PARTICULAR:  Aniversário do meu sobrinho Ulisses, falante, alegre e muito adulto pro seus cinco aninhos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Camus, Etta James e uma cerveja

         Escutando a Etta James e tomando sossegadamente uma cerveja, sinto um tempo antigo batendo de outra forma nas minhas veias. É o mundo me chamando para as suas questões, é o anarquismo exigindo meu posicionamento na história, que é minha, mas é de todos tb. Amanhã é dia de luta. O que fazer para um país entender que  educação é fator essencial de independência política e econômica? O que fazer para conseguir brotar isso além de mesquinharias político-partidárias? Camus, sempre me acho nas tuas linhas.

                             

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Da serenidade

       Nisto a que chamam vida de cachorro, penamento e consciência embotam-se, de maneira que assim há menos dor. Ou acaba não havendo nenhuma.
       É a serendiade, enfim _essa coisa que santos e filósofos procuram dificultosamente antingir por meio da elevação.
       Degradação, elevação... que importará um ou outra, meu pobre leitor, se o resultado é o mesmo?

sábado, 3 de setembro de 2011

Carta encaminhada à Presidência da República.




Excelentíssima Presidenta Dilma,

            sou professora da rede municipal de Juiz de Fora, MG, há 22 anos e venho através deste e-mail pedir a sua intervenção e a intervenção do Ministro da Educação no que se refere à implantação da Lei do Piso Nacional dos Professores. Sabemos que sua história de vida é marcada pelo grande sonho de tornar o Brasil um país justo e sabemos também que a justiça social e o crescimento econômico passam pela qualidade da educação pública e, dentro desta, inclui-se a valorização do professor público. Portanto, pedimos que a Presidência da República e o Ministério da Educação se coloquem publicamente na defesa da aplicação da Lei 11738/08.
          Em nossa cidade estamos em greve, com liminar contrária, pois o município impetrou uma ação pública por ato ilícito de greve e perturbação da ordem pública. Senhora Presidenta, colocada nesses termos, penso que a postura do município revela-se de um autoritarismo que nos faz remeter a um período nefasto e não tão distante da história do país, pois nestes meus 22 anos de magistério nenhuma manifestação nossa resultou em ato violento, sendo sempre marcadas pelo respeito à lei e pautadas no sagrado direito de reivindicação.
          Por saber que cada professor público neste país partilha deste mesmo sonho de justiça social e crescimento econômico, caso contrário não estariam dedicando suas vidas apesar de sofrer tantos desmandos, é que hoje venho pedir seu apoio. E estamos, desde já, certos dele porque sabemos que Vossa Excelência reconhece nosso papel na construção desse que é seu sonho também.
                             Fernanda Meireles – Juiz de Fora, MG