quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Agradecimento

            Acabei de saber pela amiga Ju Gervason q o post abaixo, sobre a prisão de um professor da rede estadual de ensino de MG, está bombando no twitter, com mais de 4000 visualizações. Agradeço à alma generosa q o jogou nesta rede e peço que divulguem-no  ao máximo porque o fato só mostra q o Brasil ainda precisa mudar muito e, para isso, os professores são essenciais. Ainda não somos uma democracia.

Voltamos à ditadura: estamos prendendo professor e reprimindo estudante.

                  
         Vídeo da prisão covarde do professor André Nogueira ontem em plena Rio Branco, Juiz de Fora. O PSDB manda motocicleta em cima de estudante e prende professor. Depois diz q educação é prioridade. Voltamos à ditadura, com disfarce neoliberal.
http://www.youtube.com/watch?v=n9vW8zTBsNE
               

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Nariz e narizes

        O segredo da arte _ e o segredo da vida _ é seguir o seu prórpio nariz.
        Não deixes que outros lhe ponham argola.
        Sim, é verdade que há narizes tortos, uns para a esquerda, outros par a direita... Não perca tempo, telefone ao Pitanguy.
         Um verdadeiro nariz conduz para a frente.

Memórias de menina cantadas no Boitempo

BANHO DE BACIA
No meio do quarto a piscina imóvel
tem o tamanho do corpo sentado.
Água tá pelando! Mas quem ouve o grito
deste menino condenado ao banho?
Grite à vontade.

Se não toma banho não vai passear.
E quem toma banho em calda de inferno?
Mentira dele, água tá morninha,
só meia chaleira, o resto é da bica.

Arrisco um pé, outro pé depois.
Vapor vaporeja no quarto fechado
ou no meu protesto.
A água se abre à faca do corpo
e pula, se entorna em ondas domésticas.

Em posição de Buda, em ensabôo,
resignado me contemplo.
O mundo é estreito, uma prisão de água
envolve o ser, uma prisão redonda.
Então me faço prisioneiro livre.
Livre de estar preso. Que ninguém me solte
deste círculo de água, na distância
de tudo mais. O quarto. O banho. O só.
O morno. O ensaboado. O toda-vida.

Podem reclamar,
podem arrombar
a porta. Não me entrego
ao dia e seu dever.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Leituras



          O autor desenvolve com clareza e simplicidade, sem perder conteúdo e coerência, um diálogo entre os pensamentos destes dois grandes nomes da literatura mundial que, além de poetas, foram críticos de literatura com um olhar
 perspicaz e antenado par as questões do fazer literário. Vale a pena.

domingo, 21 de agosto de 2011

more tupi beat generation - piva

         

A piedade:  http://www.youtube.com/watch?v=P2Lhaedkh48&feature=related
Assombração urbana: http://www.youtube.com/watch?v=hS7nYQ0_WfM&feature=related

É sempre bom ouvir Leminski


http://www.youtube.com/watch?v=oEXklTvm3aU&feature=related

O documentário Ervilha da Fantasia produzido para TV em 1985 por Werner Schumann:
http://www.youtube.com/watch?v=zkl57-hC3ko&feature=related

Teiniaguá: a lenda

       A lenda da "Salamanca do Jarau" está ancorada em três pilares: a atração exercida pela mulher, metamorfoseada em um animal (salamandra), pela abnegação do homem simples do campo, representando os valores imprescindíveis ao gaúcho e pela capacidade da lenda de ultrapassar o âmbito regional, atingindo o território da universalidade.
        Quando a Espanha árabe ruiu, os mouros fugiram, alguns estabeleceram-se na região sul do Brasil. Junto veio uma jovem princesa, transfigurada magicamente em uma velhinha, para não ser reconhecida e aprisionada.
          Logo de chegada, encontraram o Anhangá-pitã, o demônio dos nativos. Contaram-lhe a história e o diabo resolveu ajudá-los. A linda princesa foi metamorfoseada numa salamandra com a cabeça de pedra brilhante ou "Teiniaguá" e viveria em uma lagoa no cerro do Jarau (município de Quaraí, região sudoeste do Rio Grande do Sul).
           Atrás da Igreja da aldeia, morava um sacristão de nome Blau que foi até a lagoa, refrescar-se; a água fervia, e no meio dela surgiu Teiniaguá. Ele sabia que ela era uma linda princesa moura virgem e quem a conquistasse seria muito feliz.
Rapidamente colocou-a em uma guampa levando-a para seus aposentos. À noite, Teiniaguá tinha voltado a ser princesa e pedindo-lhe um pouco de vinho, apaixonado, roubou o vinho do padre, na sacristia. Os padres começaram a desconfiar do sumiço da bebida e invadiram seu quarto. A princesa assustada transformou-se em Teiniagá fugindo para as barrancas do rio Uruguai e o sacristão, acabou preso, condenado a morte no garrote vil.
         No dia da execução, Teiniaguá com o coração apertado, utilizou-se de magia; procurou seu amado, abrindo sulcos na terra, até chegar à igreja, interrompendo a execução.
         Salvos os dois ficaram escondidos em uma caverna muito funda e comprida no Cerro do Jarau e só seriam libertos desse encantamento, quando surgisse alguém que vencendo todas as provas de coragem e, depois de realizar um desejo que lhe seria concedido, desistiria dele.
      Duzentos anos se passaram sem que ninguém tenha quebrasse o encanto. Certo dia campeando o gado, Blau chega à furna de Jarau. Conhecia a lenda, pois sua avó charrua já tinha lhe contado quando era criança. Saudou o antigo sacristão das Missões e submeteu-se a todas as provas de coragem. Logo foi levado à presença da salamandra encantada, que lhe concedeu um desejo. Porém, Blau nada desejara.
        Quando ele montava seu cavalo para ir embora, o sacristão alcançou-lhe uma moeda de ouro como lembrança de sua estada. Para não fazer desfeita, aceitou-a. Durante muitos dias, Blau nem lembrou mais do ocorrido, porém lhe apareceu um bom negócio, um amigo queria desistir de criar gado e dizia-se interessado em vendê-los, puxou a guaiaca e lembrou-se da moeda. Muitos bois não poderia comprar, mas ao sacar a moeda da guaiaca, de lá retirou tantas moedas quantas fora preciso para comprar a boiada inteira. O amigo espalhou a notícia. E todos ficaram estarrecidos, pois Blau era um gaúcho pobre. Muito solitário, pois todos o evitavam, temendo um possível pacto seu com o diabo, devolveu a moeda. Nesse momento, o encantamento se quebrou e das furnas saíram os dois condenados, transformados em belos jovens. O final feliz foi seu casamento e a prole que trouxe descendência indígeno-ibérica ao Rio Grande do Sul.

Teiniaguá: meus primeiros escritos, meus vinte e poucos anos

            Essa semana precisei remexer alguns guardados atrás de uma conta antiga e então me deparei com ele: meu verdadeiro primeiro livro. E com ele resgatei lembranças de muitos anos atrás quando resolvi reviver a geração de poetas marginais, aqueles da década de 70 q distribuíam e vendiam seus livros e poemas mimeografados e censurados pela ditadura em bares da noite.
            Sim, eu tb tive um livro de poemas mimeografado, numa homenagem à "maldita" geração do mimeógrafo. Era final da década de 80, início de 90. Era muito artesanal, eu usava o pseudônimo "Teiniaguá" (lenda gaúcha, importada da Espanha, que encontrei no O Tempo e o Vento do Érico Veríssimo quando o li aos 17), o título era em francês Femelle Poème e a capa trazia a ilustração de uma deusa guerreira de asas (desenhada por Jayme Cortez).

     Não reparem porque era tudo muito artesanal, mas cheio de sonhos. E a verve estava ali forte, desbocada, jovem, modéstia à parte:














Destaco dois poemas dele:
O primeiro é uma homenagem a Torquato Neto:
"anjos tortos
perdidos
andam pelas ruas
sonâmbulos
zumbis

a imensa máquina negra da noite
de luz frágil estrela de brilho fugidio
esconde na esquina o sorriso
doente a saia curta o sexo
a fome a miséria

poetas tortos
perdidos
delirantes na luz de neon
que ofusca a alma
embriaga a cabeça
e pede bis"

o segundo tb pode ser pensado dentro da linha da poesia engajada e dialoga com o rock dos Titãs:

"JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS
                                 desdentados antropófagos
                                 num ritual coletivo
                                 de posse e criação
                                  do Outro
                                   de Si"

          Realmente, os grandes sonhos são gerados ao vinte e poucos anos. Nessa época, a fome de viver era grande.. a vida como uma fruta no ponto:
"Às vezes dá vontade de agarrar a vida
com uma, duas, dez mãos
e levar à boca, e trincar nos dentes
como uma fruta no ponto." (da Roseana Murray, q escreve para crianças, mas é saboreada pelos grandes)

          Para arrematar, esse post acabou me levando a outras lembranças e aí eu percebi que, ainda menina, eu, talvez, já intuísse muito da minha vida, ou q desde pequena eu já soubesse aonde queria chegar. Começo a me recordar de que várias músicas que me marcaram quando criança costumam voltar à minha memória em determinadas fases da minha vida. "Sangue Latino" é uma delas. Uma outra da qual, na época do livro comentado/resgatado acima, eu costumava me lembrar e cantarolar, mesmo desafinadamente, era "20 e poucos anos" do Fábio Júnior. Eu sei, eu sei, Fábio Júnior é brega, mas essa ficou. Abaixo um link com o videoclipe no Fantástico de 1979:
http://www.youtube.com/watch?v=kau2V2LMYLM

sábado, 13 de agosto de 2011

Memórias de menina cantadas no Boitempo

O FAZENDEIRO E A MORTE

I
Bate na vaca, bate.
Bater até que ela adote
a cria da vaca morta
como sua cria morta.

Batebate na vaca, bate.

Bota couro sobre couro
na ilusão de cheiro-pêlo.
Se não vale, bate na recusa, bate
naquilo que te rebate.
No desencontro da vaca
e do bezerro e das mortes
enlaçáveis
bate, debate, combate.
Em ti mesmo estás batendo
o deus que não vence o boi.

II
Não queres perder a cria,
é justo, é justo.
Não  queres ver desfalcado
teu difícil gado suado.
E amas em cada bezerro
o boi eterno
na eterna pastagem, sangue
de teu viver.
E bates desesperado
porque a morte não deserta
o curral sujo.

A morte não te obedece
nem a teu amor de dono.
Não tem a morte piedade
de bezerro, a morte é leite
censurado.
Estás batendo na morte
com chicote apaixonado.
O criador ama a cria
como se fosse seu filho.
Aos filhos que tu perdestes
soma-se
o bezerro já morto junto ao ubre.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Desde as nove

Meia-noite e meia. Rápido passou a hora
desde as nove quando acendi o candeeiro,
e me assentei aqui. Permanecia sem ler
e sem falar. Com quem falar,
completamente só nesta casa?

A imagem de meu corpo jovem,
desde as nove quando acendi o candeeiro,
veio encontrar-me e fez-me lembrar
quartos fechados aromatizados,
e volúpia passada - que ousada volúpia!
E trouxe-me diante dos olhos, também,
ruas que agora se tornaram desconhecidas,
locais de divertimento cheios de movimento que acabaram,
e teatros e cafés que existiram outrora.

A imagem de meu corpo jovem
veio trazer-me também as lembranças tristes:
lutos de família, separações,
afeições dos meus, afeições
dos mortos, tão pouco apreciadas.

Meia-noite e meia. Como passou a hora.
Meia-noite e meia. Como passaram os anos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Uma tarde de quarta

        Eu estava aqui pronta a fazer um post sobre essa tarde de quarta, bem cotidiana, cheirando a broa e café, com sol e chuva lá fora e o cheiro da terra molhada no ar avisando q  em breve a primavera chega. Eu estou de molho, me recuperando de um mal estar, coisas triviais da vida...
         Então, eu estava na janela, observando a chuva e a farra dos passarinhos no bouganville aqui dos fundos do prédio, que iam dele até as arvores do prédio mais atrás e voltavam. Eu estava presa, como sempre, em ver a desimportância daquilo que, infelizmente, não gira a roda dessa sociedade em q vivemos. E aí o interforne tocou. Eram os Correios, era o abençoado moço do correio ao qual eu e a Ju Gervason tanto somos gratas. E não é que ele trazia meus livros da promoção Um dia de Cosac Naify na Livraria Cultura? Pois é, o Brasil está mundando mesmo. A remessa chegou em 24 horas, pois ontem mesmo recebi um e-mail deles avisando da postagem. E eu igual a uma criança fui abrindo a caixa a toque de caixa (perdão pelo trocadilho). E aí eu lhes apresento:
                 
              Ju, obrigada pela dica mais uma vez. Vc é meu anjo da guarda literário, com dicas, promoções e conselhos sempre por perto (rsrsrs). O espírito organizador q habita minha estante fez uma cara!! Lá vem fila dupla de novo. E eu disse a ele: Calma! É só até janeiro. Casa nova, estante nova, de parede inteira do jeito q vc quer.
          E sol arrebentou de novo lá fora, com o ar fresco atravessando todas as paredes. Minhas janelas abertas ao vento, sempre, que o espírito é para o amplo.

                                               Fernanda Meireles, 03/08/2011,