A lenda da "Salamanca do Jarau" está ancorada em três pilares: a atração exercida pela mulher, metamorfoseada em um animal (salamandra), pela abnegação do homem simples do campo, representando os valores imprescindíveis ao gaúcho e pela capacidade da lenda de ultrapassar o âmbito regional, atingindo o território da universalidade.
Quando a Espanha árabe ruiu, os mouros fugiram, alguns estabeleceram-se na região sul do Brasil. Junto veio uma jovem princesa, transfigurada magicamente em uma velhinha, para não ser reconhecida e aprisionada. Logo de chegada, encontraram o Anhangá-pitã, o demônio dos nativos. Contaram-lhe a história e o diabo resolveu ajudá-los. A linda princesa foi metamorfoseada numa salamandra com a cabeça de pedra brilhante ou "Teiniaguá" e viveria em uma lagoa no cerro do Jarau (município de Quaraí, região sudoeste do Rio Grande do Sul).
Atrás da Igreja da aldeia, morava um sacristão de nome Blau que foi até a lagoa, refrescar-se; a água fervia, e no meio dela surgiu Teiniaguá. Ele sabia que ela era uma linda princesa moura virgem e quem a conquistasse seria muito feliz.
Rapidamente colocou-a em uma guampa levando-a para seus aposentos. À noite, Teiniaguá tinha voltado a ser princesa e pedindo-lhe um pouco de vinho, apaixonado, roubou o vinho do padre, na sacristia. Os padres começaram a desconfiar do sumiço da bebida e invadiram seu quarto. A princesa assustada transformou-se em Teiniagá fugindo para as barrancas do rio Uruguai e o sacristão, acabou preso, condenado a morte no garrote vil.No dia da execução, Teiniaguá com o coração apertado, utilizou-se de magia; procurou seu amado, abrindo sulcos na terra, até chegar à igreja, interrompendo a execução.
Salvos os dois ficaram escondidos em uma caverna muito funda e comprida no Cerro do Jarau e só seriam libertos desse encantamento, quando surgisse alguém que vencendo todas as provas de coragem e, depois de realizar um desejo que lhe seria concedido, desistiria dele.
Duzentos anos se passaram sem que ninguém tenha quebrasse o encanto. Certo dia campeando o gado, Blau chega à furna de Jarau. Conhecia a lenda, pois sua avó charrua já tinha lhe contado quando era criança. Saudou o antigo sacristão das Missões e submeteu-se a todas as provas de coragem. Logo foi levado à presença da salamandra encantada, que lhe concedeu um desejo. Porém, Blau nada desejara.
Quando ele montava seu cavalo para ir embora, o sacristão alcançou-lhe uma moeda de ouro como lembrança de sua estada. Para não fazer desfeita, aceitou-a. Durante muitos dias, Blau nem lembrou mais do ocorrido, porém lhe apareceu um bom negócio, um amigo queria desistir de criar gado e dizia-se interessado em vendê-los, puxou a guaiaca e lembrou-se da moeda. Muitos bois não poderia comprar, mas ao sacar a moeda da guaiaca, de lá retirou tantas moedas quantas fora preciso para comprar a boiada inteira. O amigo espalhou a notícia. E todos ficaram estarrecidos, pois Blau era um gaúcho pobre. Muito solitário, pois todos o evitavam, temendo um possível pacto seu com o diabo, devolveu a moeda. Nesse momento, o encantamento se quebrou e das furnas saíram os dois condenados, transformados em belos jovens. O final feliz foi seu casamento e a prole que trouxe descendência indígeno-ibérica ao Rio Grande do Sul.
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