quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

As urtigas de Tanizaki e os poetas de Jakobson


               
             Nesses dois últimos dias, quase em férias, consegui parar para ler um pouco, na tarefa sisífica de aliviar uma lista imensa de títulos q me acompanha. 

            Seguindo à leitura de Saigyo, fui até Tanizaki, de quem li "Há quem prefira urtigas", breve romance que retrata a ocidentalização do Japão nos anos 20 e os confrontos com a tradição cultural através da história de um jovem casal dividido entre essas duas culturas. São duas formas de viver, de pensar e de amar que os arrastam, enredando-os em questionamentos sobre si mesmos.
              Em seguida, tomei como leitura de hoje o ensaio iluminado de Roman Jakobson "A geração que esbanjou seus poetas", produzido quando do suicídio de Maiakóvski. No texto, Jakobson mostra que a morte do poeta, na verdade, era a queda de uma geração russa inteira, silenciada pelos rigores que a recente "revolução" soviética tomava. Deixo com vcs, o conhecido poema Sol de Maiakóvski, na transcriação de Augusto de Campos, e o link com outro poema, Amor, musicado por Caetano e cantado por Gal.


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

+Saigyo

Cada singular coisa
Sempre neste mundo
Muda e está mudando.
Com a mesma luz contudo
A lua segue brilhando.


Os ventos primaveris 
Dispersaram as flores
Enquanto sonhava meu sonho.
Agora eu acordo,
Meu coração está perturbado.


Rasteando-se no vento,
A fumaça do  Monte Fuji
Dissolve-se no céu.
Assim também meus pensamentos - 
Seu lugar-de-repouso é desconhecido.



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Tarde fria de primavera - lendo Saigyo

O som dum agitado córrego
Montanhês célere se precipitando
Faz alguém saber 
Quão veloz a própria vida
É no seu curso arremetida.


A mente rumo à verdade
Começa, qual um arroio, rasa
No princípio, mas então
Adiciona mais e mais profundidade
Enquanto maior clareza vai ganhando.

Do livro "Poemas da Cabana Montanhesa".

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

The Lizard King

                    Voltando da reinauguração da Livraria Liberdade, JF/MG, q agora é um BeatCafé. Booom demaais!!! Tributo a Jim Morrisson, com leituras de poemas dele, de William Blake, Rimbaud... tudo curtido no bom e velho rock'n'rool. Pra vcs deixo um pouquinho disso com http://letras.mus.br/jim-morrison/celebration-of-the-lizard/traducao.html#legenda

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Um pouco da Professora Fernanda

          Deixo aqui, para quem se interessar, um pouco do que tem sido meu trabalho no ensino público no brasileiro. Trata-se de um livro em que relato  minha experiência como professora de turmas de Laboratório de Aprendizagem. O material analisado é resultado do trabalho desenvolvido na rede municipal de educação de Juiz de Fora, MG. O relato cobre aspectos do processo de construção da leitura e da escrita por alunos inscritos neste tipo de turma, especificamente, alunos com histórico de problemas de aprendizagem que resultaram em defasagem na relação idade/série. A maioria pertencia, principalmente, ao quarto, quinto e sexto anos do ensino fundamental. Dentre os alunos participantes, alguns apresentavam distúrbios de aprendizagem relativos à capacidade de linguagem, tais como dislexia, surdez, dislalia, etc. Quem se interessar, é só enviar e-mail para nandameireles@gmail.com. Não há custo porque o livro foi financiado com verba do Fundo de Apoio à Pesquisa no Ensino Básico _ FAPEB e, isso implica na não comercialização.


domingo, 22 de setembro de 2013

O último cabalista de Lisboa

                  A velocidade de postagens neste blog anda bem lenta, mas isso é por conta de outras incursões minhas em outros territórios, distintos, entretanto afins à literatura.
               Para compensar isso, que não é distância, mas viagem em paralelo, das duas retas q se encontram no infinito, deixo aqui o relato de minha leitura de O Último Cabalista de Lisboa, escrito pelo judeu americano, naturalizado português, Richard Zimler.
         O livro é uma reconstrução histórica dos confrontos produzidos pela Inquisição portuguesa na Lisboa no ano de 1506. Fatos e personagens reais e fictícios mesclam-se numa narrativa que descreve, às vezes de forma ácida, o massacre de judeus em um Portugal governado por um Dom Manuel complacente e covarde. Em termos de enredo policial e de suspense, o livro cumpre aquilo que é -  um livro que segue roteiros tradicionais de literatura policial porque não pretende ter como leitor o erudito, mas a massa. Entretanto, como reconstrução histórica é muuiito bom. Constitui, para nós no Brasil contemporâneo, infelizmente, um livro de leitura obrigatória porque mostra a que ponto o fanatismo religioso, insuflado por intenções políticas e econômicas, pode levar um país.
                                                                            Fernanda Meireles, 22.09.2013

domingo, 18 de agosto de 2013

O Som da Montanha

             Meu segundo Kawabata. Depois de "Beleza e Tristeza", ler "O Som da Montanha" é encontrar um Kawabata mais lírico e mais depurado ainda. E isso, em se tratando de Kawabata, é um exercício de maestria do qual se é difícil se aproximar porque a obra é construída com tal esmero q temos plena vivência da fronteira em q vive o personagem Shingo Ogata, nos perdendo dentro de seus conflitos nos quais sua mente que se quer lançar no que está além do mundo cotidiano e uma vida cotidiana q o clama para bx, para o confronto com os demônios pessoais de uma família em esfacelamento.É mais q um romance sobre o Japão pós segunda guerra, é mais q um romance sobre um homem velho q nada mais quer q viver em contemplação o que lhe resta da beleza e do erotismo desta vida. É um livro sobre estar aqui e se saber não ser daqui, mas ainda assim querer beber até a última gota, pois foi para isso q viemos. E fazer isso com suprema simplicidade, que é a arte de estar não sendo, que é a arte de manejar a espada da ação como um pintor maneja o pincel na construção do delicado traço. É preciso ter acima de tudo o domínio da força. Isso é o Som da Montanha.
                                                                                       Fernanda Meireles, 18/08/2013.

sábado, 27 de julho de 2013

O Lobo da Estepe

            O livro te queima, te purifica, te coloca olho no olho do abismo. Só para raros, só para loucos. No Teatro Mágico desta vida, onde tudo, no fim, é sempre o mesmo, a grande catarse é a gargalhada mítica e tenebrosa dos Imortais, daqueles q já descobriram a grande farsa de nossa pretensa grandiosidade, daqueles q sabem que o humor bota abaixo a importância q damos às cotidianas mesquinharias q praticamos todos os dias. O humano é risível acima de tudo.

           O livro de Herman Hesse em excelente edição pocket, coisa rara no Brasil:


          O filme conturbado, avant garde, de Fred Haines:
http://www.youtube.com/watch?v=a4qWlqSLrs0

sexta-feira, 28 de junho de 2013

filha de hermes

beijando o fio do abismo
a altura é meu 
fio condutor

o espaço é minha régua
luz em manifestação

infinito
infinitude
minha natureza
sem tempo
sem espaço
filha de hermes
asas nos pés

eu vou
eu vou
sem lenço
sem documento
o sol na cara
o sol no peito

agora"eu estou"
no presente eterno "eu sou"

         Fernanda Meireles, 28/06/2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

meditação teosófica

Pergunta pra Blavatsky

Para ser um
poeta ocidental zen
é preciso
queimar muita lenha.

Um forno noborigama:
vc é o forno,
a lenha
e, tb, a peça de cerâmica.

Quem moldou
a peça de cerâmica?
Sei lá...
Pergunta pra Blavatsky.

 

     Sob as bênçãos de Kerouac, um broto emerge na haste nua da manhã fria.
                                                                                               JF, 30.05.2013

quarta-feira, 29 de maio de 2013

I'm beat

               Vinho, blues e o diário de Kerouac. Minha alma beat, jeans e all star velho, canta em amplidão. Asas na estrada.
    Deixo o link de um doc sobre a beat generation. Fui.
http://www.youtube.com/watch?v=Ik-4B2_QdsU

sábado, 27 de abril de 2013

outono

          É outono, um frio devagar e claro de lua faz a noite recoberta de infinito silêncio. E de repente sinto despontando tímida e discreta a vontade de escrever. Vontade sumida, vontade em silêncio, pela qual, volta e meia me pergunto, mas não me cobro. Ela é o q há de mais livre em mim porque deve ser o mais verdadeiro, o mais  íntegro e o mais belo.
        E de repente no meio da tarde, ela me deu um alô assim um pouco distante, a meia voz, mas já se fazendo notar.
        Com ela, como sempre, vem um monte de outras coisas, vozes e imagens a exigir uma alquimia q pode me custar caro. Não importa, desde muito cedo eu paguei todos os preços, empenhando até o que me era mais caro.
      Eu vim aqui para o teste da vida, para a prova-dos-nove, para, no final, pagar o último preço: eu mesma. Não me importo: eu sou nada, eu sou absolutamente, nada, livre de qqr forma. Estrela explodindo na cara do universo. No fim, só a rosa solar, dourada, em pura luz.
     Eu, uma quimera de um deus-menino numa tarde de outono brincando com bolinhas de gude, atirando pedrinhas ao longe, só pelo prazer de atirar. A plenitude da minha alma é ser a gargalhada desse deus-menino no meio da tarde, no meio do nada, dentro de mim.


sábado, 2 de março de 2013

I celebrate Walt Whitman

today
with all my forces
I celebrate Walt Whitman
A celebration
A song of myself

 

Para ver: https://www.youtube.com/watch?v=uOo4kqkhYag

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Um exército pela estrada

            Apenas vamos pela estrada eu e esse exército de outros eus q sou eu em forma plural. Todos soldados comigo à frente, muitos maltrapilhos, outros feridos, outros envaidecidos por glórias conquistadas, outros vis por saques surdinamente empreendidos. Vamos pela estrada como que voltando de uma guerra, a guerra de ser. Uma guerra cotidiana, sob sol, chuva, calor ou frio.
            Uma guerra sem propósito algum, mas uma guerra q precisa ser feita até que ela mesma se consuma e, ao final, se deposite nas mãos do não-ser a espada cansada empunhada por um braço mutilado.

Fernanda Meireles,        12.02.2013 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Salve minha mãe, a rainha das águas profundas


Homenagem às rainhas

       Uma filha da rainha do mar prestando homenagem à rainha dos raios. Quando essas duas rainhas se juntam qualquer navio fica à deriva se a força do comando fraqueja.

Salve a rainha do mar.
Salve a rainha pagã dos relâmpagos,
Meu mar inteiro como céu para tuas tempestades.

Iansã

Demburê, Inemburê
Mavanjú
Inemburê mavamjú
Inemburê BelaOya

Senhora das nuvens de chuva
Senhora do mundo dentro de min
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Tempo Bom, Tempo ruim

Demburê, Inemburê
Mavanjú
Inemburê mavamjú
Inemburê BelaOya

Senhora das chuvas de junho
Senhora de tudo dentro de min
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Tempo Bom, Tempo Ruim

Eu sou o céu para as tuas tempestades
Céu partido ao meio no meio da tarde
Eu sou o céu para as tuas tempestades

Deusa Pagã dos relampagos
Das chuvas de todo ano dentro de min
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Tempo bom, Tempo ruim
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Tempo Bom, Tempo Ruim

Aew didi Aew dindá
Oya matamba te aruê

Rainha dos raios
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Tempo Bom, tempo ruim
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Rainha dos raios
Tempo bom, tempo Ruim...
 
O link para ver e ouvir Rita Ribeiro e Bethânia: https://www.youtube.com/watch?v=1oaAJDKkDkg
 

Salve a rainha dos raios


domingo, 3 de fevereiro de 2013

+Pessoa iniciático.

Um poema iniciático:

Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras por própria. Manda no que fazes,
Nem de ti mesmo servo.
Ninguém te dá quem és. Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto. Sê teu filho.

E um pra ocasião. Domingão, estirada na cama e na preguiça, um céu alto e amplo entrnado pela janela, música e poesia:

DA MINHA ALDEIA vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

 Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.
       xxxxxxxxxxxxx
 
Esse tb, muito simbólico pra quem saber ler, pra quem sabe ver.

+arnaldo antunes


Se o coração disparar
Quando eu levantar os pés do chão
A imensidão vai me abraçar
E acalmar a minha pulsação

Num dia a leveza de arnaldo


Num Dia


 Sujar o pé de areia pra depois lavar na água
Lavar o pé na água pra depois sujar de areia
Esperar o vaga-lume piscar outra vez
Ouvir a onda mais distante por trás da onda mais próxima
Sujar o pé de areia pra depois lavar na água

Respirar
Sentir o sabor do que comer
Caminhar
Se chover, tomar chuva
Não esperar nada acontecer
Ser gentil com qualquer pessoa

Sujar o pé de areia pra depois lavar na água
Lavar o pé na água pra depois sujar de areia
Esperar o vaga-lume piscar outra vez
Ouvir a onda mais distante por trás da onda mais próxima

Respirar
Sentir o sabor do que comer
Caminhar
Se chover, tomar chuva
Ter saudade no final da tarde
Para quando escurecer, esquecer
Ao se deitar para dormir, dormir (4x)
Dormir.

http://www.youtube.com/watch?v=WgZqm_htwSs

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

leve, leve

      Há que ser leve sem ser superficial. Suprema alquimia. Pra vcs, o Calder:

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

dois livros e um bispo

 Às vezes dá vontade
de agarrar a vida
com uma duas
dez mãos

e levar à boca
e trincar nos dentes
como uma fruta
no ponto

                   São dois livros para crianças que movem qqr adulto a voltar a si em busca de primórdios. Dois livros para viver a poesia e a arte conjugadas.
Roseana Murray: Fruta no ponto.

Eucanaã Ferraz: Bicho de sete cabeças e outros seres fantásticos.

         Depois um documentário para ver quem via além.
Primeira parte: http://www.youtube.com/watch?v=0oUwX6uFoTk 
Segunda parte: http://www.youtube.com/watch?v=a1gShldxygw

sábado, 26 de janeiro de 2013

Amanhecendo

                 Montando meu ateliê/biblioteca. Minha vida, a estrada que segue. O sol ressurge fulgurante, invadindo janelas e paredes q, agora, são de vidro. A luz toma conta de tudo. É paz, estou em mim. Um grande oceano me aguarda. Barcos, meus braços. Nadar à larga, que, agora, estou.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

+Orides Fontela


Tempo

 O fluxo obriga
qualquer flor
a abrigar-se em si mesma
sem memória

O fluxo onda ser
impede qualquer flor
de reinventar-se em
flor repetida.

O fluxo destrona
qualquer flor
de seu agora vivo
e a torna em sono.

O universofluxo
repele
entre as flores estes
cantosfloresvidas.

__Mais eis que a palavra
cantoflorvivência
re-nascendo perpétua
obriga o fluxo

cavalga o fluxo num milagre
de vida.

Orides Fontela

A um passo de meu próprio espírito
A um passo impossível de Deus.
Atenta ao real: aqui.
Aqui aconteço.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Poesia e Cabala

         Não dava pra não comentar. Minha primeira leitura de poesia do ano vai ficar na veia: Yona Wollach, hebraica, uma hilda hilst inspirada pela cabala... Vale a pena a leitura do livro

Yona e o Andrógino -- Notas Sobre Poesia e Cabala, de Moacir Amâncio, edição Nankin/Edusp.
 
 
Deixo tb estes dois links com material pra leitura:
http://www.cronopios.com.br/site/ensaios.asp?id=4862 
e   http://www.usp.br/imprensa/wp-content/uploads/16_02_2011_033.pdf