quinta-feira, 30 de junho de 2011

Programação de hoje:

Memórias de menina cantadas no Boitempo

CASARÃO MORTO
Café em grão enche a sala de visitas,
os quartos - que são casas - de dormir.
Esqueletos de cadeira sem palhinha,
o espectro de jacarandá do marquesão
entre selas, silhões, de couro roto.
Cabrestos, loros, barbicachos
pendem de pregos, substituindo
retratos a óleo de feios latifundiários.
O casarão senhorial vira paiol
depósito de trastes aleijados
fim de romance, p.s.
de glória fazendeira.
 C. D. de Andrade, Boitempo I



















NOMES
As bestas chama-se Andorinha, Neblina
ou Baronesa, Marquesa, Princesa.
Esta é Sereia,
aquela, Pelintra,
e tem a bela Estrela.
Relógio, Soberbo e Lambari são burros.
O cavalo, simplesmente Majestade.
O boi Besouro,
outro, Beija-flor
e Pintassilgo, Camarão,
Bordado.
Tem mesmo o boi chamado Labirinto.
Ciganinha, esta vaca; outra, Redonda.
Assim pastam os nomes pelo campo,
ligados à criação. Todo animal
é mágico.
C. D. de Andrade, Boitempo I

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Professora coruja

                   Hoje nós terminamos de montar a exposição "Leituras do  universo de Mário Quintana e de Cândido Portinari através da delicadeza do origami". Foi muito prazeroso fazer o trabalho junto com os alunos, desde o começo quando da exploração dos textos de Quintana e das telas de Portinari (trabalho feito pela professora de Artes) até à construção dos origamis nas minhas aulas e nas aula de matemática. O resulto foi lindo. Deixo duas fotos pra vcs junto com dois dos  poemas trabalhados. Saboreiem:
"Da chaminé da tua casa.
Uma por uma.
Vão brotando as estrelinhas..."

"O POETA E A MENINA
Hoje ganhei meu dia. Porque uma meninazinha me perguntou: “O senhor pode me botar uma dedicação neste livro?” Escrevi, então, sinceramente: “Para a Heloisa Maria, com toda a minha dedicação.” E assinei. E datei, com tristeza."

          Sinto muito orgulho deles tb: são alunos de escola pública! Pra mostrar q nesse país, em se querendo, se faz educação pública de qualidade. No final distribuímos balas para eles. Eles merecem.São tudo de bom!

Minas

terça-feira, 28 de junho de 2011

Um livro a minha espera

              

          Fahrenheit 451, um livro para as férias. Quero ver  como vou voltar para a sala de aula depois. O outro de Ray Bradbury (Crônicas Marcianas) mexeu tanto comigo. Esse está lá na estante, provocativo e ameaçador. Tenho mais medo dele do q de Os contos Obscuros de Poe...
               

Memórias de menina cantadas no Boitempo

MELINIS MINUTIFLORA
No mais seco terreno, o capim gordura
inunda o pasto de oleoso aroma,
catingueiro de atrair vacas,
afugentar cobras
mais carrapatos.
Seu pendão violáceo, balançante ao vento,
garante leite e carne com fartura,
na voz do agregado que celebra
as mil virtudes do capim-gordura:
"Esse gado todo
vive à custa dele.
Eu mesmo, que vivo
de cuidar do gado,
sou agradecido
ao capim-gordura,
pois além do mais,
na sua brandura,
ele é diurético,
antidisentérico,
antidiarréico.
Para rematar,
dá aos passarinhos
maciez de ninho.
que na minha frente
ninguém fale mal
do santo capim-
gordura, criatura
da maior fervura
do meu peito amante!"

C. A. D. de Andrade. Boitempo I

domingo, 26 de junho de 2011

Minas

Memórias de menina cantadas no Boitempo

BOITEMPO
Entardece na roça
de modo diferente.
A sommbra vem nos cascos,
no mugido da vaca
separada da cria.
O gado é que anoitece
e na luz que a vidraça
da casa fazendeira
derrama no curral
surge multiplicada
sua estátua de sal,
escultura da noite.
Os chifres delimitam
o sono privativo
de cada rês e tecem
de curva em curva a ilha
do sono universal.
No gado é que dormimos
e nele que acordamos.
Amanhece na roça
de modo diferente.
A luz chega no leite,
morno esguicho das tetas,
e o dia é um pasto azul
que o gado reconquista.


BOTA
A bota enorme
rendilhada de lama, esterco e carrapicho
regressa do dia penoso no curral,
no pasto, no capoeirão.
A bota agiganta
seu portador cansado mas olímpico.
Privilégio de filho
é ser chamado a fazer força
para descalçá-la, e a força é tanta
que caio de costas com a bota nas mãos
e rio, rio de me ver enlameado.

Carlos D de Andrade, Boitempo I

(Homenagem ao meu pai q, se estivesse por aqui, faria aniversário nesta terça. Saudade. Foto no dia da apresentação de dança da minha irmã.)

sábado, 25 de junho de 2011

Leituras

               Hoje eu consegui terminar a leitura do  livro do Joca Terron, Sonho Interrompido por Guilhotina.Ele foi uma das minhas aquisições de obras de  autores contemporâneos na minha última ida ao Rio. Terron é um dos autores novos que acompanho pela net ou através de publicações especializadas. Conheci-o através de um artigo do Jornal Rascunho. A leitura se estendeu mais, não em função do livro, mas, para variar, por conta do excesso de trabalho.
             O livro é repleto de referências ao universo da literatura, do cinema, da música... São tantas as referências q, caso o leitor não as reconheça nem q seja vagamente, pode ficar com cara de quem não entendeu a piada. Porém, isso não impede o fluxo narrativo ou o conjunto, às vezes fragmentário, de situações narrativas porque, na mairia dos textos do livro, o autor não tem preocupações em manter a linearidade clássica. Isso tudo faz com q o livro exija uma espécie de leitor que não aquela afeita aos textos facilmente digeríveis.
           Dentre as principais referências literárias presentes nos textos, inclusive como personagens dos episódios (ou sonhos) estão Valêncio Xavier, José Agrippino de Paula, Glauco Mattoso e Raduan Nassar. A presença deste último se dá em "Cem mil frangos fantasmas" que, junto a "Expurgos na via pública", "Pequenos danos" e "Monumento ao escritor desconhecido" são os textos de que mais gostei. Todos têm a literatura como foco principal, discutindo, de modo inteligente (e irônico),  o mundo literário de hoje, a questão do escritor frente ao mercado e à questão do fim da literatura.     
 
       Consegui terminar tb a leitrua de Eros e Psiquê na tradução de Ferreira Gullar.  Peguei o livro na biblioteca da escola  muito por causa das ilustrações belíssimas de Fernando Vilela. Eu tinha levado os alunos para fazerem os empréstimos de férias e, como sempre, fiquei eu tb namorando os livros. Então, resolvi trazê-lo comigo. É a história que eu já conhecia, mas na tradução confiabilíssima de Ferreira Gullar. A  leitura foi prazerosa e mais uma vez me suscitou algumas reflexões, dessa vez, bastante incrementadas pela leitura em curso dos volumes de Mysterium Coniunctionis de Jung. E novamente fiquei assombrada com a capacidade grega de compreensão do humano, capacidade q, infelizmente, nós cada vez perdemos mais. Se, como ocidentais, somos seus herdeiros, como temos tratado essa herança? Com um descaso e uma ignorância arrogantes? Com certeza, infelizmente.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Garimpando

      
                 Desci por volta do meio-dia pra almoçar e ir até um cartório solicitar um documento. Como o local só abriria às duas, tive uma boa desculpa para passar num sebo. E eis q encontro três volumes da antiga edição da Ática portuguesa da obra de Fernando Pessoa - "Poesias de Fernando Pessoa", "Novas Poesias Inéditas de Fernando Pessoa" e "Odes de Ricardo Reis". Agora já são quatro volumes dessa edição, contando com o livro de "Quadras ao Gosto Popular" q ganhei há alguns anos. Além dos três volumes da edição portuguesa, encontrei tb o livro "A Língua Portuguesa" do mesmo Fernando Pessoa, editado pela Cia das Letras. Para finalizar, achei por 10 reais a edição da CoascNaify com a obra completa da Orides Fontela. Ter tempo para garimpar num sebo é muito bom, se pudesse entrava pela tarde por conta disso.

Lou Andreas-Salomé



"Ouse, ouse... ouse tudo!!! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.

Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!!

"Dentro da felicidade eu estou em casa."

"Pois, sobretudo, resulta no indivíduo uma espécie de interação ébria e exuberante das mais altas energias criadoras do seu corpo e a exaltação mais alta da alma. Enquanto nossa consciência se interessa vagamente, habitualmente, por nossa vida psíquica, como por um mundo que conhecemos mal e que controlamos ainda pior, que ao que parece forma um com ela, mas com o qual normalmente ela se entende mal - eis que se produz subitamente entre eles uma tal comunhão de enervação que todos os seus desejos, todas as suas aspirações se inflamam ao mesmo tempo."

"Assim, para quem ama, o amor, por muito tempo e pela vida afora, é solidão, isolamento, cada vez mais intenso e profundo. O amor, antes de tudo, não é o que se chama entregar-se, confundir-se, unir-se a outra pessoa. (...) O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo por si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser: é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe."

"Sempre não tive a idéia fixa de que a velhice me traria muito? Em meus jovens anos escrevi em algum lugar: primeiro nós vivemos nossa juventude, em seguida nossa juventude vive em nós. Não sei bem, ainda hoje, o que eu queria dizer com isso outrora. Mas eu tinha realmente medo de não atingir a idade de viver esta experiência; eu o sabia profundamente, uma longa vida, com todas as suas dores, vale ser vivida,. Claro, o valor da vida pode nos ficar escondido pelos desgastes sofridos pela nossa carne, nosso espírito (...) do mesmo modo que a juventude mais empreendedora pode se ver entravada em sua felicidade e em seu sucesso, por um fatal concurso de circunstâncias; mas, por além das perdas, a velhice adquire muito mais que a famosa aptidão à serenidade e à lucidez: ela permite que se chegue a uma plenitude mais acabada."

"Claro, como se ama um amigo
Eu te amo, vida enigmática –
Que me tenhas feito exultar ou chorar,
Que me tenhas trazido felicidade ou sofrimento,
Amo-te com toda a tua crueldade,
E se deves me aniquilar,
Eu me arrancarei de teus braços
Como alguém se arranca do seio de um amigo.
Com todas as minhas forças te aperto!
Que tuas chamas me devorem,
No fogo do combate, permite-me
Sondar mais longe teu mistério.
Ser, pensar durante milênios!
Encerra-me em teus dois braços:
Se não tens mais alegria a me ofertar
Pois bem – restam-te teus tormentos. "

"Tu, céu claro sobre mim,
Quero confiar-me a ti
Não permitas que o prazer e a dor daqui
De admirar-te possam-me impedir!
Tu, que sobre tudo te projetas,
Através de espaços e através dos ventos,
Mostra-me aonde vais, pois é minha meta
Reencontrar-te em todos os momentos.
Do prazer não quero ver o fim
Não fugirei do sofrimento que abate,
Espaço e mais espaço é o que quero sobre mim
Para ajoelhar-me sobre o azul e venerar-te."

terça-feira, 21 de junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Leituras



            Adentrei a madrugada, mas dei conta de terminar o livro de contos de Katherine Mansfield, traduzido por Alexandre Barbosa e Carlos Eugênio Marcondes de Moura na edição verde (lindíssima) da CosacNaify.
                    Autora de cerca de uma centena de contos, de diários e de uma vasta correspondência, Mansfield teve uma vida breve e uma trajetória errática e conturbada por crises sentimentais e relacionamentos inconfessáveis na atmosfera vitoriana em que viveu meros 34 anos (1898-1923). Influenciada por Tchekhov, admiradora de Joyce e admirada por Virginia Woolf, moderna não só na literatura mas em seu comportamento sexual e amoroso, a escritora neozelandesa inventou a sua própria forma de conto. Detinha-se no instante e na intensidade dos pequenos acontecimentos, sem explorar tramas romanescas. Esta edição reúne contos da mais fina produção da escritora. Em relação às publicações anteriores no Brasil há correções importantes de erros de revisão e de tradução, que comprometiam às vezes a intelecção de passagens inteiras. Foram incluídas, também, notas esclarecedoras sobre contextos locais. A edição traz, ainda, apêndice com trechos de seus diários comentando cada conto, bem como sugestões de leitura e fotos inéditas do arquivo Katherine Mansfield da Biblioteca Nacional da Nova Zelândia.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Leituras

João Ternura de Aníbal Machado:
 um misto de quixote brasileiro com  macunaíma, colorido com doses de modernismo e surrealismo. Lê-se numa sentada, encontram-se trechos de ironia mordaz.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Na pista de dança, Adriana e Wally

http://www.youtube.com/watch?v=AKzMAKGUqG8

Canto da inteireza 2

Eu não gosto de palavras pela metade
Não gosto de textos pela metade
Não gosto de pessoas pela metade
Não gosto de relações pela metade

Meu canto
Meu grito
Minha opção
É pela inteireza
Nem que ela me rasgue inteira
Ou me atire pelo precipício mais próximo

Minha natureza é ser fênix
Eu sempre volto
Inteira

     Fernanda Meireles

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aniversário de FPessoa

         No dia de hoje, nasceu FPessoa. Eu poderia selecionar alguns textos pra comemorar a data aqui, porém ficaria insatisfeita porque, com certeza, deixaria outros tantos textos (dos quais tb gosto muito) de fora. Por isso vou comemorar com  imagens de seus múltiplos em um.
              

                    

                       

K & K, Kundera fala sobre Kafka

           Na quinta parte de seu livro A arte do romance, Kundera se dedica a discutir a obra de Kafka. O autor busca definir, em alguns tópicos, o que se toma por kafkiano:
1º - O mundo é uma imensa instituição labiríntica da qual não se consegue sair nem se consegue compreender. Essa grande instituição obedece a leis programadas não se sabe mais por quem e seus interesses nada têm de humanos.
2º - Na ficção kafiana, o dossiê assemelha-se à idéia platônica. Ele é a realidade primeira e a existência individual é seu mero reflexo. A vida cotidiana é uma sombra daquela realidade que está noutro plano, o plano institucional. E aqui, nas terras brasileiras,  temos os frequentes casos das pessoas q têm de provar q estão vivas porque, nos arquivos, elas são dadas como mortas. Essa característica kafkiana poderia receber uma leitura metafísica tradicional, mas dela discorda Kundera ao afirmar que "...em todos os lugares em que o poder é endeusado, ele produz automaticamente sua própria teologia... Kafka não escreveu alegorias religiosas, mas o kafkiano (na realidade e na ficção) é inseparável de seu aspecto teológico (ou antes: pseudoteológico) ".
3º - Em Kafka, o indivíduo punido desconhece a causa da punição e, absurdamente, procura uma justificativa para sua pena. Uma máquina de autoculpabilização começa a funcionar e o acusado passa a procurar sua falta por meio do exame minucioso de sua vida. Kundera cita o caso de Amália e de sua família, em O Castelo, que passam a ser evitados por todos depois q a moça recebeu uma carta obscena e anônima de um funcionário do Castelo. O pai, em vão procura pelo autor e pelo veredicto, mas não os encontra: "o castigado suplica q o reconheçam culpado!" Kundera mostra q situações do tipo são comuns em Praga por volta de 1986 (ano de lançamento do livro) quando pessoas q não conseguem emprego suplicam ao estado um atestado de falta q justifique seu estado de desempregado porque, no país, o emprego é um dever presecrito em lei e o parasitismo é condenável. Então, é melhor ser culpado por algo que nunca se fez do que ser inocente!                                                                                                
                                 
                                      (ilustração de O Castelo)
4º - O cômico faz parte da essência do kafkiano, mas é uma brincadeira para quem está fora da história, nenum pouco engraçada para aqueles da qual são vítimas. O cômico, em Kafka,  'destrói no ovo' qualquer possibilidade de saída para o personagem, mesmo q fosse a saída pela nobreza do trágico.
         Segundo Kundera, "As imagens, as situações e, mesmo, as frases precisas dos romances de Kafka faziam parte da vida de Praga... As imagens de Kafka estão vivas em Praga porque elas são a antecipação da sociedade totalitária."
        Entretanto, não se trata de considerar a obra de Kafka como um tratado sociológico, mas sim como a apresentação e exposição de uma possibilidade humana que a história acabou botando em curso. O totalitarismo está no homem antes de que esteja na sociedade: "Existem tendências na história moderna que produzem o kafkiano na grande dimensão social: a concentração progressiva do poder tendendo a se divinizar; a burocratização  da atividade social q transforma todas as instituições  em labirintos a perder de vista; a despersonalização do indivíduo resultante disso."
to be continue...

Leituras

             Li, ontem, numa sentada só, com intervalos pro café, a coletânea 10 cariocas. O livro traz contos de dez autores da nova safra da literatura brasileira numa edição bilíngüe (português/espanhol). Destaco os textos de João Paulo Cuenca, Bráulio Tavares e Cecília Gianetti.

Mistif, o monstrinho camarada

          Ontem, o Mistif comemorou 12250 anos. Um pré-adolescente, se vc pensar que a média de idade na família gira em torno de 90000 anos...  
            O Mistif é parecido com o Pluft, são, inclusive, coleguinhas de escola. Dividem seus lanches, seus brinquedos e seus conflitos familiares. Passam tb plas mesmas incompreensões.
         O Mistif  tem o dom da metamorfose e cada um lhe enxerga numa forma diferente, segundo suas projeções afetivas. Assim, pra uns Mistif é de um jeito, pra outros, completamente diferente, e nunca conseguem  chegar a um consenso sobre sua real forma.
           Não é à toa que, na escola, a matéria de que ele mais gosta é Aritmética da Difração Quântica na Desintergração Egóica¹ com o Prof Fernando Pessoa, um pacato sujeito, mas dado a transformações heteronímicas e a flagrantes delitros...
         O Mistif está em fase de crescimento e, pelo andar da carruagem, quer dizer, pela taxa hormonal, o Mistif vai ficar muito grande. Seu andar desajeitado vive provocando pequenos acidentes. Pequenos pra ele, né, porque pra maioria são verdadeiros desastres. Além do tamanho, o monstrinho tem uma força... Abraços de urso são naturais nele.
        O Mistif ainda não sabe o q vai ser quando crescer, mas tb não está preocupado com isso. Ele apenas quer ter um milhão de amigos pra bem mais forte poder cantar.
        Entretanto, esse monstrinho camarada tem um segredo que apenas o Pluft, um dia, sem querer, percebeu. Mistif sempre sonha com uma terra nova e diferente, povoada por seres diminutos, bastante engraçados e confusos. Ele morre de curiosidade de conhecer esse lugar, mas, por outro lado, a fada do aconselhamento vive lhe enviando mensagens de perigo.
       O problema é que Mistif adora uma aventura perigosa. Isso não vai dar em boa coisa...
       Pra vcs algumas fotinhas q tiraram do Mistif. As formas são diferentes (vcs devem concluir) é porque foram tiradas por fotógrafos diferentes. Escolha a q mais lhe agradar, mas tem certeza de quem nenhuma delas pode ser a verdadeira porque isso nem o próprio Mistif sabe direito.









          

1. Nessa eu me inspirei no Bráulio Tavares.

Política Externa - artigo 43

O novo governo central
que assumiu o poder há coisa de dois anos mais ou menos
resolveu modificar a política externa
e, no novo alinhamento político estabelecido,
houve por bem recriar o exército
e dar-lhe como missão principal a defesa das fronteiras.

Assim, agora, o ministério das relações externas
comanda o exército
e as fronteiras, antes abertas
e constantemente violadas,
porque o governo anterior era fraco e ingênuo,
nada conhecedor dos meandros sutis
presentes nas relações externas,
agora são vigiadas dia e noite.
Relações de amizade que, na grande maioria dos casos,
nada mais são do que relações comerciais
onde o lucro é sempre o objetivo maior.

Assim sendo, o novo governo central
comunica às nações amigas
que os portos estão abertos,
que as fronteiras têm portões de acesso,
que o povo está em sereníssima paz,
em fervilhante processo de fortalecimento da nação,
que a arte e a literatura são o alimento cotidiano de todos,
que os embaixadores estão sempre dispostos ao diálogo,
mas nada, em hipótese alguma,
deve ferir a soberania nacional.

Porque a paz,
a paz é filha natural da guerra.
A guerra acabou,
foram muitos os mortos e os feridos.
Agora a paz floresce,
cultivada cotidianamente,
e defendida arduamente.

Segundo o novo governo central
a grande divisa com a qual todos concordam
é a de que
uma nação forte
se constrói na paz
e se mantém na força.

domingo, 12 de junho de 2011

Passagem

Aquilo que, timidamente, imaginou um escolar está patente,
manifesto diante de si. E vagueia, e passa a noite,
e deixa-se arrastar. E, como é (para nossa arte) conveniente,
a seu sangue, novo e quente,
a volúpia desfruta. A seu corpo vence
uma ilícita embriaguez erótica; e os membros jovens
entregam-se a ela.

                       E é assim que um simples rapaz
se torna digno de que o vejamos, e é assim que pelo Elevado
Mundo da Poesia também ele passa, por um instante -
o rapaz  sensitivo com seu sangue novo e quente.

sábado, 11 de junho de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Eu paguei o preço
não foi nenhum  pouco barato
mas tá na minha mão
prestação mensal de ser o q sou
sem deixar atrasar o boleto:
agora chegou minha vez.
não tenha a menor dúvida
de q eu vou querer
tudo
tim tim por tim tim

vinho e bob dylan

Uma das minhas preferidas:        "Changing Of The Guards"

Sixteen years
Sixteen banners united over the field
Where the good shepherd grieves
Desperate men, desperate women divided
Spreading their wings 'neath falling leaves.

Fortune calls
I stepped forth from the shadows to the marketplace
Merchants and thieves, hungry for power, my last deal gone down
She's smelling sweet like the meadows where she was born
On midsummer's eve near the tower.

The cold-blooded moon
The captain waits above the celebration
Sending his thoughts to a beloved maid
Whose ebony face is beyond communication
The captain is down but still believing that his love will be repaid.

They shaved her head
She was torn between Jupiter and Apollo
A messenger arrived with a black nightingale
I seen her on the stairs and I couldn't help but follow
Follow her down past the fountain where they lifted her veil.

I stumbled to my feet
I rode past destruction in the ditches
With the stitches still mending beneath a heart-shaped tattoo
Renegade priests and treacherous young witches
Were handing out the flowers that I'd given to you.

The palace of mirrors
Where dog soldiers are reflected
The endless road and the wailing of chimes
The empty rooms where her memory is protected
Where the angel's voices whisper to the souls of previous times.

She wakes him up
Forty-eight hours later the sun is breaking
Near broken chains, mountain laurel and rolling rocks
She's begging to know what measures he now will be taking
He's pulling her down and she's clutching on to his long golden locks.
Gentlemen, he said I don't need your organization, I've shined your shoes
I've moved your mountains and marked your cards
But Eden is burning either brace yourself for elimination
Or else your hearts must have the courage for the changing of the guards.

Peace will come
With tranquillity and splendor on the wheels of fire
But will bring us no reward when her false idols fall
And cruel death surrenders with its pale ghost retreating
Between the King and the Queen of Swords.
           

Cânticos de Cecília

XXVI

O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste breve,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No moemento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Candelabro

Num quarto vazio e pequeno, só quatro paredes,
cobertas com tecidos inteiramente verdes,
um belo candelabro está aceso e arde;
e, em cada chama sua, abrasa-se
uma paixão lúbrica, um impulso lúbrico.

No pequeno quarto, que brilha alumiado
pelo forte fogo do candelabro,
não é absolutamente habitual esta luz que jorra.
Para corpos tímidos não é feita
a volúpia deste calor.

domingo, 5 de junho de 2011

Quanto possas

E se não podes fazer tua vida como a queres,
esforça-te pelo menos nisto,
quanto possas: não a degrades
na convivência demasiada  com as pessoas,
nos demasiados movimentos e colóquios.

Não a degrades levando-a,
trazendo-a frequentemente  e expondo-a
à estupidez cotidiana
das relações e das companhias,
até que se torne pesada como uma estranha.

Entrevista com José Castello

             O autor fala de literatura, vida e do livro recente, Ribamar. Vale a pena:
             http://www.youtube.com/watch?v=Xs_pArRY5X0

             Outra entrevista: Na Flip, José Castello fala sobre o processo de construção do livro Ribmar, sobre o seu fazer literário...
http://www.youtube.com/watch?v=dW2tGnHx-XY&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=r46HzkLJhZo&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=qAJG-m_kDvY&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=_uiyfu1MWTA&NR=1
http://www.youtube.com/watch?v=WBo1jJiyB6c&NR=1

Vestida com o Desassossego

                                              D:\Ricardo Gross Docs\As minhas imagens\Arrastrand

sexta-feira, 3 de junho de 2011

rainbown16 [Curiosidades] Arco íris de livros, experimente!

A herança desaparecida de Cervantes - parte 2

(Continuação de http://litterofagia.blogspot.com/2011/04/heranca-desaparecida-de-cervantes.html)

            No mundo apresentado por Kafka e Hasek, a unidade da humanidade o monstro a ser enfrentado não está mias no interior da alma, mas é exterior ao individuo , é impessoal, é invisível, e dele ninguém escapa. É a antecipação do 1984 de Orwell. Antecipação bem mais rica porque mostra q em situações paradoxais e terminais as categorias existenciais mudam completamente. O q passam a ser a aventura, o futuro, um crime do qual até se esquece, o cômico cujo cenário é a guerra (!), as fronteiras entre público e privado e, até, a solidão tratada como angústia e maldição, mas, na verdade, um bem tão precioso (e perigoso) que precisa ser esmagado pela coletividade.
        Kundera rebate também as teses acerca do fim do romance. Mostra, inicialmente, q só setenta anos depois Joyce desenvolveu plenamente a proposta flaubertiana e q os paradoxos terminais propostos pelos romancistas do leste europeu estão longe de serem esgotados. Na previsão de futuristas e surrealistas, o romance desapareceria na estrada do progresso, em benefício de uma nova arte completamente nova e radical, seria enterrado junto com todas as mazelas sociais no alvorecer de uma nova sociedade.
          Entretanto, o autor, testemunha nuclear da censura em regimes totalitários, mostra q o romance não se coaduna com um mundo no qual uma única verdade se coloca. O espírito do romance é, por natureza, ambíguo, relativo, multifacetado. A morte do romance, para ele, ocorreu nos regimes totalitários do mundo comunista a partir da produção em massa de obras ‘permitidas’ porque ratificavam o sistema político e não traziam em si nenhum aspecto q levasse o leitor a descobrir uma nova faceta ou parcela da realidade ou de si mesmo. A morte do romance se deu pela repetição, pela reprodução esvaziada. Uma morte dissimulada, q não escandaliza ninguém, q passa totalmente despercebida. É digno e pertinente observar como a indústria cultural (e especificamente a livreira), no ocidente, tem levando com afinco essa mesma proposta. Vivemos na era das mega-bookstores. Quem tem o faro, mesmo q não tão desenvolvido, sabe q na entrada de cada uma delas só encontramos lixo e em grande quantidade.

(Este texto é um apanhado do primeiro capítulo do livro de Milan Kundera, A arte do romance, na edição da Companhia das Letras de 2009)

Bem vindo ao deserto do real

             Sabe aqueles dias em q vc acorda, abre um olho, abre o outro e diz "a coisa não é bem assim"... pois é, hoje eu acordei Trinity de tudo. Netzach.

            

quarta-feira, 1 de junho de 2011