CASARÃO MORTO
Café em grão enche a sala de visitas,
os quartos - que são casas - de dormir.
Esqueletos de cadeira sem palhinha,
o espectro de jacarandá do marquesão
entre selas, silhões, de couro roto.
Cabrestos, loros, barbicachos
pendem de pregos, substituindo
retratos a óleo de feios latifundiários.
O casarão senhorial vira paiol
depósito de trastes aleijados
fim de romance,
p.s.
de glória fazendeira.
C. D. de Andrade, Boitempo I
NOMES
As bestas chama-se Andorinha, Neblina
ou Baronesa, Marquesa, Princesa.
Esta é Sereia,
aquela, Pelintra,
e tem a bela Estrela.
Relógio, Soberbo e Lambari são burros.
O cavalo, simplesmente Majestade.
O boi Besouro,
outro, Beija-flor
e Pintassilgo, Camarão,
Bordado.
Tem mesmo o boi chamado Labirinto.
Ciganinha, esta vaca; outra, Redonda.
Assim pastam os nomes pelo campo,
ligados à criação. Todo animal
é mágico.
C. D. de Andrade, Boitempo I
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