O FAZENDEIRO E A MORTE
I
Bate na vaca, bate.
Bater até que ela adote
a cria da vaca morta
como sua cria morta.
Batebate na vaca, bate.
Bota couro sobre couro
na ilusão de cheiro-pêlo.
Se não vale, bate na recusa, bate
naquilo que te rebate.
No desencontro da vaca
e do bezerro e das mortes
enlaçáveis
bate, debate, combate.
Em ti mesmo estás batendo
o deus que não vence o boi.
II
Não queres perder a cria,
é justo, é justo.
Não queres ver desfalcado
teu difícil gado suado.
E amas em cada bezerro
o boi eterno
na eterna pastagem, sangue
de teu viver.
E bates desesperado
porque a morte não deserta
o curral sujo.
A morte não te obedece
nem a teu amor de dono.
Não tem a morte piedade
de bezerro, a morte é leite
censurado.
Estás batendo na morte
com chicote apaixonado.
O criador ama a cria
como se fosse seu filho.
Aos filhos que tu perdestes
soma-se
o bezerro já morto junto ao ubre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário