BANHO DE BACIA
No meio do quarto a piscina imóvel
tem o tamanho do corpo sentado.
Água tá pelando! Mas quem ouve o grito
deste menino condenado ao banho?
Grite à vontade.
Se não toma banho não vai passear.
E quem toma banho em calda de inferno?
Mentira dele, água tá morninha,
só meia chaleira, o resto é da bica.
Arrisco um pé, outro pé depois.
Vapor vaporeja no quarto fechado
ou no meu protesto.
A água se abre à faca do corpo
e pula, se entorna em ondas domésticas.
Em posição de Buda, em ensabôo,
resignado me contemplo.
O mundo é estreito, uma prisão de água
envolve o ser, uma prisão redonda.
Então me faço prisioneiro livre.
Livre de estar preso. Que ninguém me solte
deste círculo de água, na distância
de tudo mais. O quarto. O banho. O só.
O morno. O ensaboado. O toda-vida.
Podem reclamar,
podem arrombar
a porta. Não me entrego
ao dia e seu dever.
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