segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Achados e perdidos

        Generalizando, e dando ao caso um toque emocional de exagero, levo metade do dia a procurar o que se extraviou na véspera.
         Não, não tentem ajudar-me, ó bem-amadas, pois não se trata de jóias e, se por acaso eu as houvesse herdado, não teriam para mim outro valor senão o de empenhá-las pouco a pouco.
         O que eu perco são coisas imponderáveis, suspiros não, mas pensamentos, se assim posso chamar o que às vezes me borboleteia na cuca e que procuro transfixar no papel, antes que um súbito buzinar ou britadeira as mate de nascença.
        E, enquanto procuro traçá-las a lápis no papel, pois graças a Deus não pertenço intelectualmente à era mecânica, às vezes me parece que, por exemplo, um manuscrito me saiu um garrancho, ou, antes, um gancho, que faz pender a linha destas escrituras e por conseguinte a linha do pensamento.
       Estão vendo? De que era mesmo que eu estava falando? Ah! era dos papéis escritos, extraviados, esqucidos.
        Quem sabe lá como seriam bons!
       Quanto a este, que tive o cuide de não perder, o melhor será colocar-lhe no fim os três pontinhos das reticências...
         Ninguém sabe ao certo o que querem dizer reticências.
        Em todo caso, desconfio muito que esses três pontinhos misteriosos foram a maior conquista do pensamento ocidental...

Nenhum comentário:

Postar um comentário