domingo, 10 de outubro de 2010

a vida em brancas nuvens

      Essa semana reencontrei uma colega da época de faculdade e a gente acabou parando pra conversar e tomar um cafezinho com pão de queijo. Bom, conversa vai, conversa vem... como é típico nesse tipo de encontro, atualizamos nossas vidas uma pra outra. E isso significa, contar as voltas e reviravoltas costumeiras do viver. Depois de contar a ela sobre meu retorno à literatura, depois de investir um doutoramento em lingüística (coisa com a qual ela se surpreendeu, pois, dentre suas lembranças da época da faculdade, está a minha monitoria de literatura portuguesa), depois de lhe contar do meu casamento e do meu ‘descasamento’ já há 4 anos, depois de lhe contar sobre meu projeto de casa nova à margem de uma mata, de lhe contar outras tantas desventuras também com o mundo acadêmico, a minha reencontrada amiga abaixou a cabeça e disse-me em meia voz que sua vida continuava a mesma coisa. E isso inclui não só sua situação profissional e financeira, como até mesmo seus desajustes afetivos. Fiquei meio sem saber o que dizer porque sou um ser do movimento... gêmeos, signo de ar, né... Também filha de Iemanjá, segundo alguém por aí e, portanto, também filha de outro movimento, o das águas...
            Sei que aquilo me incomodou depois q nos separamos... Eu tenho mudado bastante. Digamos q o vento tem se tornado mais leve, a caminho de ser brisa, coisa q tenho buscado, sem pressa, mas com constância. Entretanto, ser imóvel e não deixar a vida passar por vc é coisa q me assombra, é de uma covardia silenciosa e cotidiana, é coisa de quem se trai... Não sei quem está certo, não sou juiz de ninguém... mas a vida pulsando na veia, o dia de amanhã se descortinando, o futuro te esperando mesmo q seja no fio da navalha, foram feitos pra q possamos mostrar de q matéria é nosso espírito. Como tudo na minha vida termina em poesia, acabei me lembrando das brancas nuvens de F Pessoa e de V de Moraes:

“Quem passou pela vida em brancas nuvens
e em plácido descanso adormeceu.
Quem nunca bebeu das fontes da alegria,
da paz, do amor, do silêncio e da harmonia.
Quem nunca se deleitou com a meditação.
Quem nunca experimentou o êxtase interior.
Vegetou. Se arrastou do útero à cova...
Foi um espectro de homem, não foi homem.
Só passou pela vida, não viveu.” F Pessoa

“Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não.” V de Moraes

Fernanda Meireles, 10.10.2010

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