hoje olhando pra essa foto, lembrando-me da minha adolescência sentada em silêncio às margens desse rio, penso no guimarães e vejo que o que me ficou realmente foi a terceira margem, aquela que, às vezes, me assombra em sonhos com suas enchentes fortes, cujo som eu ficava quieta no quarto a escutar. na madrugada eu acompanhava com o meu silêncio respeitoso imaginando se suas águas já tinham tomado a estrada. já no inverno suas águas corriam mansas e era certo me encontrar sentada nas pedras da margem perto da moita de bambus, com os pés dentro d'água, em completo silêncio, a escutá-lo, que dessa vez falava baixinho. minha tia dava por minha falta demorada e já começava a falar: já está ela na beira do rio e não sabe nem nadar. mas eu não tinha medo do rio, nunca pensei que algo pudesse me acontecer. esse rio manso também me aparece nos sonhos, límpido e forte. de tudo do lugar, das pessoas, dos acontecimentos, de toda a vida vivida ali, só o rio me ficou. sua/minha terceira margem doce ou feroz me prende num navegar eterno. margem a margem de mim. o meu tejo é belo.
Fernanda Meireles, 19.11.2009
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