Ontem à noite tinha lua, uma lua tênue entre nuvens e chovia também, numa brincadeira entre relâmpagos e luar. Eu estava na casa dos meus pais no interior. A chuva acabou provocando a interrupção do fornecimento de energia e então ficamos por umas duas horas às escuras. No vizinho havia uma confraternização de músicos e o som de violões e cavaquinhos acabou invadindo também aquela noite. Ficamos na varanda vendo o brincar da lua com os relâmpagos e escutando a música, eu, minha tia e minha mãe. A luz da noite atravessava a chuva e mostrava os contornos das casas e das pessoas. Era uma coisa tão simples e tão incomum pra quem, por viver há muito em grande cidade, acaba tendo pouquissímas chances de encarar a luz da noite como ela realmente é, sem a interferência tecnológica. Fiquei tentando imaginar como seriam as noites na antigüidade. Minha pele muito branca naquela luz lembrou-me estátuas antigas, raptos de virgens e outras coisas helênicas. Eu quis ser grega com chuva e lua ou qualquer coisa indefinível que escorre pelo tempo e me leva a escrever sobre antiguidades como ser mulher, ter útero, ter sangue e ainda conseguir ser leve.
Conservatória, 28.12.2009
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