Em momentos inesperados,
As redes de Orfeu
Me trazem
do fundo do mar ancestral
um fantasma que lá se esconde.
Habitante de navios náufragos,
Esse fantasma, às vezes, assoma
À minha superfície
E deixa revolto o mar tranqüilo
Do meu cotidiano.
Como no grafite,
Esse celacanto que mora
Nessas minhas regiões abissais,
Não é, na verdade, o provocador dos maremotos.
É sim, um codinome
Pra um submarino inimigo
Que ronda minhas fronteiras
Tencionando vencer-me e conquistar-me.
O comandante, ironia maior,
Tem minha face e minha voz
Tão bem disfarçadas
Noutra voz e noutra face –
A do fantasma que me ronda.
Enfim,
Não há ninguém ali
Além de mim mesma.
Essa é a única coisa,
Verdade nua e crua,
Que mantém o leme seguro
E a rota firme.
Todos os embates são meus,
Todos os inimigos
São minha contraface,
Porque nada me habita
Se eu não o tiver tornado
Eu.
Sou ilha
E pra me habitar
Há que se tornar ilhéu.
Sou mar
E pra me habitar
Há que se tornar marítmo.
Sou navio
E pra estar a bordo
Há que ser marinheiro.
Sou eu,
Fantasma, mar, navio, ilha,
Origem, caminho, destino final,
oroboros.
SOU INTEIRA.
APENAS SOU.
Fernanda Meireles,
Juiz de Fora, 16 de agosto de 2010,
a partir do filme "A Origem"
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