sábado, 18 de dezembro de 2010
Ainda o meu Tejo
Ontem, sexta, acabei precisando voltar a Valença pra deixar outros documentos pro advogado. Voltei no ônibus das treze. Fazia muito calor. Eu me sentei à janela que dava pro rio pra estar com ele durante todo o trajeto. O vento da janela escancarada refrescava meu corpo e trazia consigo o cheiro da enchente. É, a enchente tem cheiro. As águas barrentas do rio, naquele calor escaldante, tinham lá algo como sua maresia. Esse cheiro vem comigo desde muito. Ele me traz outras coisas que, quando criança, perto da Fazenda Santa Clara, eu ouvi pela primeira vez. O cheiro do rio numa tarde de muito calor me traz lembranças de Iaras e Sacis nunca vistos, mas sempre imaginados. Me dá uma alma de índia. O frescor do vento me faz sonhar com sonolências embaixo de árvores copadas. Sou Mãe d'Água, Janaína, Loreley, sereia branca, alma liberta pelo calor dos trópicos porque, afinal, diz a lenda que não há pecado ao Sul do Equador. Nesse encanto, o rio me adormeceu, tomou minha alma. Tornou-me barrenta, de alma fértil.
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