TAMBOR NO ESCURO
O rumor vem de longe. Vem da Rua de Baixo,
onde é tudo diverso e pode aocntecer?
Do Areão? De não sei onde vem.
No vento, no entressono fevereiro.
É a caixa-de-guerra.
A caixa enorme, a caixa repetida
que não deixa dormir,
surda, longíqua, tão presente
no breu do quarto, agora.
O som penetra o cobertor,
cola-se à carne. Quem está rufando
este convite, este brado, esta ameaça?
Operários rebelados
contra o sossego de coronéis e coletores?
Há quantas noites se repete
e amanhã risco nenhum no céu lavado,
nenhum sinal na rua,
do zabumba-fantasma desta hora.
O nome, o nome vago
sonolento se esboça: Zé-Pereira,
de ninguém conhecido, não é primo,
não é irmão de Tonho, de Justino,
de Salatiel Pereira, clã sortido.
Um Zé sem cara que é o próprio bumbo
a soar na hora morta do meu catre.
Dizer que é carnaval chegando nada explica.
Há uma força chamando e só à noite
é que ele escuta o chamado?
Deus diferente, diabo manhoso,
só virá se a batida chega ao ponto,
e é preciso insistir, noturno apelo renitente?
Se eu pudesse sair,
sem ranger de botina,
sem pigarro do Velho me espreitando,
no rastro deste apelo, susto embora!
O sentido das coisas mora longe.
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