quarta-feira, 14 de março de 2012

Memórias de menina cantadas no Boitempo

CHEIRO DE COURO
Em casa, na cidade,
vivo o couro
a presença do couro
o couro dos arreios
dos alforjes
das botas
das botinas amarelas
dos únicos tapetes consentidos
sobre o chão de tabuões que são sem dúvida
formas imemoriais de couro.

Vivo o cheiro do couro,
bafo da oficina do seleiro
suspenso no quarto dos arreios.
Surpreendo, apalpo o cheiro futuro
dos bois sacrificados
olhando
a parada estrutura dos bois vivos.

Aspiro, adivinhando-o,
o cheiro do couro nonato
da cria na barriga da vaca Tirolesa
que um dia será carneada.

O couro cheira há muitas gerações.
A cidade cheira a couro.
É um cheiro de família, colado aos nomes.

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