quinta-feira, 29 de maio de 2014

Clariceando na madrugada insone

A Rosa Branca
Corola alta: que extrema superfície. Catedral de vidro superfície da superfície, inatingível. Pelo teu talo duas vozes à terceira e à quinta e à nona se unem em coral - crianças sáias abrem bocas de manhã e entoam espírito, leve superfície de espírito, superfície intocável de uma rosa.
Estendo minha mão esquerda que é mais fraca e delicada, mão escura que logo recolho sorrindo de pudor: não te poso tocar. Meu rude pensamento quisera poder cantar teu entendimento de elo e glória.
Tento liberar-me da memória, entender-te como te vê a aurora, como te vê uma cadeira, como te vê outra flor. (Não temas, não quero possuir-te.)
Alço-me, alço-me em direção de tua superfície que já é perfume. Alço-me até atingir minha própria tona, minha própria aparência  - empalideço nessa região assustada e fina, quase alcanço tua superfície divina... Numa queda ridícula caí.
Não abaixo minha cabeça rosnante: quero ao menos sofrer tua vitória com o sofrimento angélico de tua harmonia, de tua alegria. Mas dó-me o coração grosseiro como em amor por um homem. E das mãos tão grandes saem as palavras envergonhadas. CL

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