A Mágoa Mortal
Os
telhados sujos a sobrevoar, arrastas no vôo a asa partida. Acima da igreja as
ondas do sino te rejeitam ofegante até a areia da praia. O abraço consolador não
podes mais suportar pois amor estreita asa doente. Sais gritando pelos ares em
horror, sangue escoa pelos telhados. Foge. foge para o espanto da solidão,
pousa na rocha, estende o ser ferido que em teu corpo se aninhou: tua asa mais
inocente foi atingida. Mas a cidade te fascina. Insistes lúgrebe em brancura
carregando o que se tornou o mais precioso: a dor. Voas sobre os tetos em ronda
de urubus. A asa pesa pálida na noite descida em pálido pavor. Sobrevoas
persistente a cidade fortificada e escurecida — capela, ponte, cemitério, loja
fechada, parque morto, floresta adormecida, folha de jornal voa em rua
esquecida. Que silêncio na torre quadrada. Espreitas a fortaleza inalcançável.
Não, não desças, não finjas que não dói mais — é inútil negar asa partida.
Arcanjo abatido, não tens onde pousar. Foge, assombro, foge, ainda é tempo —
desdobra com esforço a asa confrangida. Foge, dá à ferida a sua verdadeira
medida e mergulha tua asa no mar. C.L.
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