quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Memórias de menina cantadas no Boitempo

MITOLOGIA DO ONÇA
Que lugar diferente dos lugares,
o Onça!
Custo a crer que exista além da boca,
faladeira de sonhos.
No entanto viajantes vêm do Onça,
apeiam, amarram suas mulas
na argola do mourão
e contam, pachorrentos, da viagem.
Contam de sua gente, de seus matos
e seus rios.
O Onça-Grande, o Onça-Pequeno
me perturbam.
São rios feitos de onça, águas ferozes
de onça encachoeirada?
Nas ruas do Onça passam onças
e pessoas caminham junto a elas?
Uma onça maior governa o Onça,
cada dia um menino é mastigado
em sua mesa rubra a escorrer sangue?
Riem de mim os viajantes
se lhes faço perguntas. Não pergunto.
Não riem. Ouço apenas
as estórias do Onça, corriqueiras.
No Onça não há onças.
É calma, tudo lá. Em mim, tremor.
Em mim é que elas bramem, noite negra.

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