quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Dançando com o vazio


       A imagem dessa página é “Leap into the Void” (nome completo da obra: “Salto no vazio: um homem no espaço! O pintor do espaço se joga no vazio!”), fotomontagem de 1960 pensada – e protagonizada - por Yves Klein.
       Antes de saltar ao vazio, o artista francês compôs uma sinfonia monotônica, pintou telas monocromáticas (com uma tonalidade de azul criada por ele, o epifânico “International Klein Blue”), soltou 1001 balões (azuis-klein) pelo céu de Saint-Germain-des-Prés, no que chamou de “escultura aerostática”, e vendeu espaços vazios por ouro – que depois jogou nas águas do Sena.
      Sem falar das modelos nuas (“pincéis vivos”) se besuntando de tinta azul-klein (“o invisível tornando-se visível”) sobre telas em branco ao som da sinfonia monótona – em 1949!
      Mais do que o azul que o imortalizou, a imagem que resume melhor sua meteórica carreira (Klein morre de infarto aos 32) é a impressa ao lado. O seu mergulho de fé no vazio – no imaterial, no efêmero – anuncia nossa contemporaneidade com 50 anos de antecedência. Além de antecipar a instalação e a performance como formas de arte, Klein nos antecipou o vazio.
       “A era do espaço” anunciada por Klein, um faixa-preta de judô versado em Zen-budismo e na cosmogonia Rosa-cruz, prevê um mundo onde espíritos sem fronteiras existem livres de forma, objetos levitam e seres humanos viajam livres do seu próprio corpo. Ele preconiza a virtualidade total.
      Penso em Klein, homem fora do tempo, e na sua estética da desaparição não porque eu mesmo faça planos diários de sumir como um personagem do Vila-Matas, mas porque passei a tarde conectado ao Facebook, recebendo sugestões de amigos que desconheço sobre o que escrever ou não.
      (Para os neófitos: Facebook é uma Ilha de Caras Virtual, onde as celebridades em potencial que povoam nosso planeta organizam sua vida social, estampam fotografias e fazem a fila para seus futuros parceiros sexuais e/ou afetivos.)
       O desfile de personagens-de-si-mesmos em sites como o Facebook, o ramerrame monossilábico do Twitter ou a interação visual explícita do Chatroulette confirmam Klein: espíritos sem fronteiras, seres humanos viajando livres do corpo, objetos levitando etc. Como diria Klein: “vida longa ao imaterial!”
        O vazio está aí - mais do que nunca esteve. Só nos resta aprender a dançar com ele.
João Paulo Cuenca

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