Inauguro o ano pescando estes três poemas no blog do Antônio Cícero (http://antoniocicero.blogspot.com/):
I - Poema dos dons
Ninguém rebaixe a lágrima ou rejeite
esta declaração da maestria.
de Deus, que com magnífica ironia
deu-me a um só tempo os livros e a noite.
Da cidade de livros tornou donos
estes olhos sem luz, que só concedem
em ler entre as bibliotecas dos sonhos
insensatos parágrafos que cedem
as alvas a seu afã. Em vão o dia
prodiga-lhes seus livros infinitos,
árduos como os árduos manuscritos
que pereceram em Alexandria.
De fome e de sede (narra uma história grega)
morre um rei entre fontes e jardins;
eu fatigo sem rumo os confins
dessa alta e funda biblioteca cega.
Enciclopédias, atlas, o Oriente
e o Ocidente, centúrias, dinastias,
símbolos, cosmos e cosmogonias
brindam as paredes, mas inutilmente.
Em minha sombra, o oco breu com desvelo
investigo, o báculo indeciso,
eu, que me figurava o paraíso
tendo uma biblioteca por modelo.
Algo, que por certo não se vislumbra
no termo acaso, rege estas coisas;
outro já recebeu em outras nebulosas
tardes os muitos livros e a penumbra.
Ao errar pelas lentas galerias
sinto às vezes com vago horror sagrado
que sou o outro, o morto, habituado
aos mesmos passos e aos mesmos dias.
Qual de nós dois escreve este poema
de uma só sombra e de um plural?
O nome que assina é essencial,
se é indiviso e uno este anátema?
Groussac ou Borges, olho este querido
mundo que se deforma e que se apaga
numa empalidecida cinza vaga
que se parece ao sonho e ao olvido
Jorge Luis Borges: "Poema de los dones" / "Poema dos dons": trad. de Josely Vianna Baptista
II - Ama teu ritmo...
Ama teu ritmo e ritma tuas ações
sob sua lei, assim como teus versos;
tu és um universo de universos,
e tua alma uma fonte de canções.
A celeste unidade que supões
fará brotar em ti mundos diversos,
e, ao ressoar teus números dispersos,
pitagoriza entre as constelações.
Escuta essa retórica divina
do pássaro do ar e a noturna
irradiação geométrica adivinha;
mata essa indiferença taciturna
e pérola a pérola cristalina
engasta onde a verdade entorna a urna.
Rubén Dario: "Ama tu ritmo..." / "Ama teu ritmo... : " trad. Antonio Cicero
III - Torso arcaico de Apolo
Não sabemos como era a cabeça, que falta,
de pupilas amadurecidas. Porém
o torso arde ainda como um candelabro e tem,
só que meio apagada, a luz do olhar, que salta
e brilha. Se não fosse assim, a curva rara
do peito não deslumbraria, nem achar
caminho poderia um sorriso e baixar
da anca suave ao centro onde o sexo se alteara.
Não fosse assim, seria essa estátua uma mera
pedra, um desfigurado mármore, e nem já
resplandecera mais como pele de fera.
Seus limites não transporia desmedida
como uma estrela; pois ali ponto não há
que não te mire. Força é mudares de vida.
Rainer Maria Rilke: "Archaïscher Torso Apollos" / "Torso arcaico de Apolo": trad. Manuel Bandeira
Minha querida, estou quase chegando! Guarde uns minutinhos para mim =)
ResponderExcluirO que acha de me fazer companhia enquanto arrumo minha mala? ou minhas bagunças em casa? tomamos um café e papeamos!!!
Te ligo quando chegar.
Até lá!
E enquanto isso: FELIZ DOIS MIL E SEMPRE =D
Fernanda! te desejo um ano ótimo, cheio de realizações.
ResponderExcluirbeijão