sábado, 2 de julho de 2011

Leituras

            Li, num jato, sem conseguir me despregar, de ontem pra hoje, o Lavoura Arcaica do Raduan Nassar. O livro me prendeu como o filme, mas me deixou muito mais à beira de uma lâmina fina. O estilo rápido, denso e voluptuoso do texto quase nos afoga. E a sensação de terra fresca, húmus, sombra, misturados com austeridade paterna e sensualidade materna nos arremessam no mesmo conflito do personagem André, envolvido num amor natural e incestuoso pela irmã Ana. Amor gerado dentro da própria austeridade religiosa do pai. A párabola do filho pródigo, as leis severas dos Dez Mandamentos, o amor vicejando em todo o ambiente natural (nos pássaros, nas árvores, na terra úmida), os sentidos provocados constantemente, deixando a carne acesa... a vida grita dentro do texto, a vida brota em ramagens diversas, em flores, em animais, a vida se putrefaz em drosófilas varejeiras que sombreiam os sermões do pai. Só lendo pra saber.

 

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