PROCURAR O QUÊ
O que a gente procura muito e sempre não é isto nem aquilo. É
outra coisa.
Se me perguntam que coisa é essa, não respondo, porque não é
da conta de ninguém o que estou procurando.
Mesmo que quisesse responder, eu não podia. Não sei o que pro-
curo. Deve ser por isso mesmo que procuro.
Me chamam de bobo porque vivo olhando aqui e ali, nos ninhos,
nos caramujos, nas panelas, nas folhas de bananeira, nas gre-
tas do muro, nos espaços vazios.
Até agora não encontrei nada. Ou encontrei coisas que não eram
a coisa procurada sem saber, e desejada.
Meu irmão diz que não tenho mesmo jeito, porque não sinto o
prazer dos outros na água do açude, na comida, na manja,
e procuro inventar um prazer que ninguém sentiu ainda.
Ele tem experiência de mato e de cidade, sabe explorar os mundos,
as horas. Eu tropeço no possível, e não desisto de fazer
a descoberta do que tem dentro da casca do impossível.
Um dia descubro. Vai ser fácil, existente, de pegar na mão e sen-
tir. Não sei o que é. Não imagino forma, cor, tamanho.Nesse
dia vou rir de todos.
Ou não. A coisa que me espera, não poderei mostrar a ninguém.
Há de ser invisível para todo mundo, menos para mim, que
de tanto procurar fiquei com merecimento de achar e direito
de esconder.
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