sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Ovo da Serpente


Sinopse do "Adoro cinema":
              "Abel Rosenberg, um trapezista judeu desempregado, está em Berlim em Novembro de 1923 para tentar descobrir a razão do suicídio de seu irmão. A Alemanha está em crise na república de Waimar em razão da primeira guerra mundial. O povo vive em constantes crises existenciais, econômicas e sociais e o poder político está em franco declínio e os cidadãos vivem sem uma perspectiva de futuro. Neste ambiente de caos o “ovo da serpente” encontra ambiente propício para ser chocado e eclodir com força e mudar os destinos do mundo e da Alemanha. Abel encontra abrigo em um apartamento de um cientista que também lhe oferece um emprego. Sua cunhada vive como corista em uma boate de quinta categoria e mora em uma pensão e ambos acabam se relacionando nesta semana tumultuada. A solidão de ambos, a miséria em que vivem e o futuro sem futuro os colocam numa situação constrangedora de viver um caso tumultuado. No trabalho Abel desconfia que alguma coisa está errada e, ao investigar o tal cientista, descobre que ele está fazendo experiências humanas em nome da ciência médica e da supremacia ariana e encontra respostas para o suicídio do irmão.
           A fome, o desemprego, a superinflação e a violência urbana criam situações de desespero geral aumentando o descontentamento de uma nação criando assim um ambiente favorável para que Hitler encontre eco a sua megalomania de um poder absoluto e tirano. Acima de tudo, encontra um povo disposto a elevá-lo ao topo da hierarquia indiferente aos seus métodos racistas e cruéis. Um retrato fiel de uma Alemanha em crise e uma profunda reflexão sobre as origens do nazismo. O título do filme é uma síntese perfeita das condições que permitiu o surgimento de Hitler e seu regime nazista. Não é um filme para se assistir indiferente. "
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Trecho selecionado por mim:
A fala do cientista ao final, ao esclarecer ao protagonista Abel o que ele, confusamente, mas intuitivamente, havia percebido em sua estada em Berlim.:
"Destruir os arquivos da clínica seria uma decisão romântica. Daqui a alguns anos a Ciência pedirá os documentos e continuará as experiências em escala gigantesca. Hitler é um cabeça-de-vento e não tem capacidade intelectual e método. Ele não entende as forças tremendas que está prestes a invocar.
     Haverá uma revolução e o mundo se afundará em sangue e fogo. As crianças e adolescentes de hoje, em dez anos, formaram uma nova sociedade, inigualável em toda a história da humanidade.A velha sociedade  era baseada em idéias extremamente românticas sobre a bondade do homem. Era tudo complicado já que as idéias não correspondiam à reliadade. A nova sociedade será baseada numa avaliação realista do potencial e das limitações do homem. 
        O homem é uma deformação, uma perversidade da natureza. É aí que entram as nossas experiências. Lidamos com a construção básica e a remodelamos. Libertamos as forças produtivas e controlamos as destrutivas. Exterminamos o que é inferior e aumentamos o que é útil."
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Fato histórico frequentemente omitido: Hitler, na verdade, ser viu a propósitos de uma casta que, a princípio, duvidou de sua capacidade de aglomeração das massas. Ou seja: Um messias é sempre alguém a serviço. Ele mesmo não passa de uma pessoa substítuível, caso não satisfaça aos anseios que o sustentam.
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Outra cena que me marcou:
A personagem de Liv Ullmann assiste diariamente a missas católicas em busca de conforto. Ao final de uma delas procura o padre para se confessar e pede a ele uma oração. Pede mais ainda: pede perdão por uma culpa que carrega que, na verdade, não é dela. O padre então diz que Deus, às vezes, está tão distante dos homens que a única coisa a fazer é nos perdoarmos mutuamente. Então, ele a perdoa,  mas, em seguida, lhe perde perdão, por sua indiferença e apatia. Escancaradamente, um tapa na cara da Igreja Católica.
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Fica para pensarmos o papel e a força da ciência, que se autorga o direito de dizer o que é correto e o que é errado fundamentado em experiências científicas, das quais não se pode duvidar. Como se o discurso interpretativo dessas experiências não fosse feito pelo próprio homem, a "deformação, a perversidade da natureza".
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Fica ainda mais: Um mundo pautado só no conhecimento é um mundo perfeito? No racional puro não há medo, dor ou amor. Os sentimentos pertencem a outra esfera. É só aquilo que a mente calcula friamente como a realidade. Um homem completamente frio e racional é um psicopata. É este o ídolo que cultuamos vestido de ciência pura? A pureza da ciência, afirmo categoricamente, é algo muito questionável.
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Para finalizar e atualizar a leitura de Bergman, assistam a Gattaca.
(Num futuro no qual os seres humanos são criados geneticamente em laboratórios, as pessoas concebidas biologicamente são consideradas "inválidas".)

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